Cotidiano

Crítica: Arthur Verocai traz delicadeza e suingue em ?No voo do urubu?

63409192_SC 19-12-2016 Criolo e Arthur Verocai.jpgRIO ? São oito anos desde ?Encore?, seu disco anterior. E 44 anos desde ?Arthur Verocai?, seu primeiro álbum solo ? pouco valorizado à época do lançamento, mas tornado cult e sampleado por rappers americanos décadas depois. A música de Verocai, porém, não é de pressa ? como mostram a profusão de timbres e os harmoniosos e intrincados cruzamentos entre eles presentes em ?No voo do urubu? (Selo Sesc), que o compositor e arranjador lança agora.

Com participações de artistas como Criolo, Mano Brown, Seu Jorge e Danilo Caymmi, o álbum põe para dançar juntos delicadeza e suingue. Esse encontro, que atravessa o disco, fica evidente em momentos como a faixa-título, com suas flautas que voam alto, leves no terreno agudo, enquanto bateria e baixo seguram um suingue no chão do grave ? tudo trançado pelo piano de Verocai, num quase samba-rap de alma bossanovista em tributo ao Rio, na voz de Seu Jorge.

No disco, os arranjos soam maiores do que as canções ? mas é difícil afirmar isso com segurança, pela forma como ambos universos se entrelaçam. A singeleza de canção de festival (a despeito da harmonia densa) de ?Oh, Juliana? ? cantada por Danilo Caymmi ? ganha corpo com as cordas. Da mesma forma, ?Cigana? (parceria de Verocai com Mano Brown, que a interpreta) ganha uma nobreza soul ? violinos e metais têm ar de clássico da Motown ? que seus versos e melodia não carregam por si. Arthur Verocai | No Voo do Urubu | Selo Sesc

Mestre da arte de vestir bem as canções, Verocai deixa o refrão de ?A outra? (sua com Vinicius Cantuária, cantor convidado na faixa) na cara do gol com os metais que o antecedem e preparam sua cama. ?O tambor?, cantada por Criolo (parceiro de Verocai na canção), faz pensar numa Stax cravada na Zona Norte ? lembrar a Black Rio é quase inevitável, não fosse o solo de guitarra que abre para outros ares.

Na reta final do álbum, Verocai abre mão dos versos e brinca a sério nas instrumentais. ?Snake eyes? é suave e sedutora como seu título. Mas é em ?Na malandragem? ? talvez a melhor do disco ? que Verocai põe sax e flauta como num diálogo malicioso entre Noel Rosa e Wilson Baptista, mas num groove funk. Depois, jogo ganho, relaxa em ?Desabrochando?, de melodia doce e supreendente.

Cotação: bom.