Cotidiano

Cristina Kirchner foi advertida de dez irregularidades em obras públicas, diz jornal

2016_921751410-201607061856436142_AFP.jpg_20160706.jpg BUENOS AIRES ? Antes de ter seus bens bloqueados e suas contas bancárias congeladas pela Justiça, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner disse que pediria aos juízes que a investigam que realizem uma auditoria sobre as concessões de obras públicas de seus dois governos. A principal suspeita dos três magistrados que têm em mãos processos envolvendo a ex-presidente é de que Cristina enriqueceu ilicitamente, entre outras manobras, alugando hotéis e imóveis a empresários previamente beneficiados em licitações públicas. De acordo com informação publicada na sexta-feira pelo jornal ?Clarín?, a auditoria solicitada publicamente pela ex-chefe de Estado já foi realizada e demonstrou que, sendo presidente, Cristina recebeu pelo menos dez advertências sobre irregularidades em concessões para construir moradias, estradas e represas hidroelétricas, entre outras obras. cristina

? Vou propor uma auditoria sobre toda a obra pública que fizemos ? declarara a ex-chefe de Estado.

O jornalista Marcelo Bonelli, colunista estrela do ?Clarín?, assegurou que ?Cristina ignorou os alertas e tomou uma decisão política cada vez que recebia os documentos: não corrigir nada, acobertar os casos e avançar com as obras questionadas?. Bonelli indicou, ainda, que os relatórios entregues a então presidente foram elaborados pela Auditoria Geral da Nação (AGN) e contaram até mesmo com o respaldo de dirigentes da kirchnerista Frente para a Vitória, que integravam o organismo.

Semana passada, o auditor da AGN Alejandro Nieves, declarou que ?aqui houve um plano sistemático para roubar com a obra pública?. A hipótese dos juízes Sebastián Casanello, Julián Ercolini e Claudio Bonadio, que comandam os três processos que mais preocupam Cristina, é de que a ex-presidente atuou em parceria com os empresários Lázaro Baez – preso desde abril passado por ordem de Casanello ? e Cristóbal López. Os três enfrentam acusações de suposta lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e associação ilícita.

Nas auditorias já realizadas, ampliou Bonelli, foi detectado que nas obras inspecionadas houve sobrepreços de, no mínimo, 25%, e pagamentos antecipados aos concessionários, sem que as obras tivessem avançado (muitas das obras de Baez ainda não foram terminadas). Nos documentos enviados à Cristina, a AGN refere-se, segundo o colunista, a uma ?burguesia kirchnerista? que estava sendo favorecida nas licitações públicas.

Casanello também investiga se a ex-chefe de Estado recebeu advertências do governo dos Estados Unidos sobre operações suspeitas que Baez teria realizado no país. De acordo com o promotor Guillermo Marijuan, existe fortes indícios de que Cristina tenha sido alertada e optado, mais uma vez, por proteger o empresário e sócio da ex-família presidencial.

O avanço dos processos judiciais já teve impacto na imagem pública de Cristina, que na sexta-feira pretendia retornar à província de Santa Cruz. Recente pesquisa da empresa de consultoria Management & Fit mostrou que atualmente a imagem negativa da ex-chefe de Estado alcança 44,2%, acima dos 38,1% que atingia em dezembro passado, quando deixou o poder. Já a imagem positiva caiu de 38,1% para 37,8%.

Os escândalos de corrupção são cada vez mais ruidosos e complicam a situação judicial de figuras de proa dos governos kirchneristas, como o ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido. Além de ter sido chefe do ex-secretário de Obras Públicas, José López, preso desde junho passado, quando foi descoberto tentando esconder mais de US$ 9 milhões num mosteiro, De Vido já foi processado por sua responsabilidade no acidente ferroviário que no verão de 2012 matou 52 pessoas.

O ex-ministro, que enfrenta, paralelamente, outros processos, foi acusado semana passada de ter gastado US$ 295 mil por dia, em 2015, no programa ?Apaixonar-se?, criado, segundo informações oficiais, ?para fomentar os valores centrados no amor?. O dinheiro, de acordo com reportagem do ?La Nación?, foi transferido a universidades públicas que, por sua vez, o destinaram a outros beneficiários, por exemplo, produtoras artísticas alinhadas com o kirchnerismo.