A explosão de grandes proporções ocorrida no fim da tarde de quarta-feira (26) na Cooperativa C.Vale, em Palotina, que iniciou em um silo de armazenamento de grãos na área industrial, traz à tona o questionamento referente sobre a segurança acerca do processo, desde chegada e armazenagem até a retirada dos grãos. Em todo o Paraná são inúmeras cooperativas e empresas que trabalham com o mesmo sistema, há anos, sem nenhum registro de um incidente com tamanha proporção.
A tragédia resultou em oito pessoas mortas, sendo sete haitianos e um brasileiro, 11 internadas e uma pessoa que até o fechamento desta matéria continuava desaparecida, já que pode estar soterrada embaixo do milho ou dos escombros, em local de difícil acesso. Moradores das redondezas sentiram o forte tremor de terra que foi registrado por câmeras de segurança e deixaram prejuízos também nas residências e no comércio no entorno da unidade.
A pergunta que grande parte das pessoas fazem desde o ocorrido é sempre a mesma: O que aconteceu para causar a explosão? A reportagem do Jornal O Paraná conversou com o gerente regional do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), de Cascavel, Geraldo Canci, que explicou que a fiscalização nas cooperativas é uma atividade de rotina.
Segundo Canci, este trabalho é realizado pelo menos uma vez por ano, de forma presencial, sendo analisada toda a documentação que precisa ser acompanhada por um profissional responsável da cooperativa, incluindo serviços de engenharia como instalações/manutenções de equipamentos, planos de segurança e ambiental, construção e reforma em edificações, dentre outros.
De acordo com o gerente regional do Crea-PR, existe todo um processo que é o “beneficiamento de grãos” e que precisa seguir regras para que se mantenha a qualidade do grão, desde o armazenamento, secagem até o controle de insetos e fungos. “Neste mês de julho, inclusive, começamos a fazer uma operação em todo o estado e não temos nenhum registro de problemas de documentação nas cooperativas”, relatou.
Levantamento técnico
Geraldo Canci destacou que na própria C.Vale foi levantada a situação e analisado que todo o processo está atualizado e correto, mas devido ao fato registrado, nesta sexta-feira (28) uma equipe vai até o local fazer o levantamento presencial de forma mais técnica, para fazer a coleta e a análise minuciosa da situação, que fará parte de um grande relatório que vai especificar e “tentar” encontrar aonde foi registrada a falha.
Canci disse que a coleta de informações vai apenas iniciar hoje e que todo o trabalho deve demorar pelo menos 60 dias para ser concluído, já que eles vão depender ainda de laudos de outros órgãos envolvidos, como o Corpo de Bombeiros e a própria Polícia Científica. “Depois, com tudo isso em mãos, é que vamos cruzar as informações para saber se houve imperícia e aonde é que ocorreu a falha, já que nesse primeiro momento não podemos analisar o que causou e ainda se os engenheiros envolvidos podem ter responsabilidade com relação ao acidente, por negligência ou imperícia”, disse.
Ainda segundo o gerente, é prematuro apontar as causas do acidente de Palotina, lembrando que Crea-PR não investiga o acidente em si (as causas). A investigação do acidente cabe a Polícia Científica. Canci, que é engenheiro civil e especialista em engenharia de avaliação e perícia, salientou ainda que esse é um trabalho paralelo e que a prioridade, primeiramente, é o trabalho de buscas do Corpo de Bombeiros.
A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as causas do incidente e a Polícia Científica está utilizando um equipamento scanner 3D e um drone de grande resolução para auxiliar o levantamento pericial
Trabalho e solidariedade
Muitas entidades, órgãos e associações manifestaram o sentimento de consternação sobre o ocorrido. A Prefeitura de Palotina e o Governo do Estado do Paraná decretaram luto oficial de três dias por causa da tragédia. O governador em exercício Darci Piana visitou o local da explosão junto com o prefeito de Palotina, Luiz Ernesto de Giacometti, representantes da C.Vale e outras autoridades.
O governador Carlos Massa Ratinho Junior, que está em viagem oficial aos Estados Unidos, lamentou profundamente o ocorrido. “O povo do Paraná é solidário aos familiares e amigos dessas vítimas que partiram enquanto estavam trabalhando”, afirmou. Um total de 35 bombeiros militares trabalham no incidente e outros 14 bombeiros do Gost (Grupo de Operações de Socorro Tático), além de 7 cães de busca.
O Corpo de Bombeiros segue com as buscas e o trabalho de limpeza do local, sendo que os esforços estão concentrados na retirada do volume de grãos de milho dos silos, operação que é realizada de maneira intensa e gradual. Até a madrugada de ontem (27), por volta das 3h, todas as vítimas tinham sido retiradas do local do acidente, com apenas uma pessoa considerada desaparecida.
Sobre os pacientes internados, a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) realizou ainda ontem a transferência de dois pacientes de Cascavel e um paciente de Palotina para o Hospital de Londrina, referência de atendimento a pessoas queimadas.
Famílias são prioridade
O presidente da C.Vale, Alfredo Lang disse ontem, em vídeo postado nas redes sociais e distribuído à imprensa, que prioridade é a assistência às famílias das vítimas da explosão. As equipes de segurança do trabalho da cooperativa estão auxiliando e prestando assistência às famílias das vítimas. Ele reforçou em nota encaminhada a imprensa de que o sinistro ocorrido na unidade central de recebimentos de grãos de Palotina, ainda não tem as causas identificadas.
Foto: AEN