Cotidiano

'Como nossos pais', de Laís Bodanzky, estreia no Festival de Berlim

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BERLIM – Em todos os filmes que já dirigiu, a diretora Laís Bodanzky sempre teve como roteirista o marido Luiz Bolognesi. O autor das histórias de ?Bicho de sete cabeças? (2001) e ?Chega de saudade? (2008) também ajudou a desenvolver o primeiro tratamento de ?Como nossos pais?, o quarto longa-metragem de ficção da realizadora paulistana, que fez sua estreia neste fim de semana na mostra Panorama do 67ª Festival de Berlim, com acolhida calorosa por parte do público. Mas, em função do tema, as agruras da mulher contemporânea, Laís teve a palavra final sobre a trama.

? Eu já havia contribuído de alguma forma em roteiros anteriores escritos pelo Luiz, mas é como se eu estivesse realmente estreando como roteirista ? diz Laís, em entrevista ao GLOBO. ? A contribuição dele, com o ponto de vista masculino na problemática, foi muito importante. Temos a mesma visão de mundo. Ele tem muito respeito pelas personagens femininas, mas foi rico conversar com ele para ter o embate e criar surpresas, fazê-lo passar por uma tomada de consciência, porque acho que ele nunca parou para pensar nesse assunto.

?Como nossos pais? descreve um momento de crise na vida emocional de Rosa (Maria Ribeiro), filha de uma intelectual e de um artista plástico, que divide o seu tempo entre o trabalho indesejado, a criação das duas filhas pequenas, e as ausências do marido (Paulo Vilhena), um ambientalista. Em meio a pressões de vários lados, ela descobre, em um almoço dominical com a família, que é fruto de um caso da mãe com outro homem, que hoje ocupa um lugar de destaque no Palácio do Planalto. Apesar de todas as atribulações domésticas, ela ainda se sente impelida a buscar por sua real identidade.

? Quando li o roteiro, percebi imediatamente que eu estava preparada para fazer aquela personagem. Fiquei quatro anos no programa de TV ?Saia justa? falando sobre feminismo, então passei a ter uma consciência maior do lugar da mulher na sociedade, dessas coisas pequenas do dia a dia que, na verdade, são enormes ? conta Maria, colunista de O GLOBO. ? Sem falar que sou mãe, sou filha, já havia falado sobre a relação com a minha mãe, de como me sentia mais próxima do meu pai em meu livro (?Trinta e oito e meio?). Tinha essa experiência em mim.

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A representação feminina no mundo moderno também foi tema de ?Félicité?, do diretor senegalês Alain Gomis, um dos concorrentes ao Urso de Ouro, exibido ontem. O filme descreve o longo e humilhante périplo da personagem título, uma cantora de bar da periferia da cidade de Kinshasa, no Congo, para levantar o dinheiro necessário para operar o filho, ferido em um acidente de moto. Dona de feições duras, que só se desfazem quando sobe aos palcos para cantar, Félicité (Véro Tshanda Beya Mputu) cruza os lugares mais sórdidos ou ricos da região apelando para conhecidos, amigos, patrões e ex-patrões e até o ex-marido para conseguir fundos para pagar a conta do hospital.

? Ela é um exemplo da mulher que não se deixa abater facilmente, que enfrenta tudo e todos de cabeça erguida para atingir seus objetivos ? resumiu Gomis em Berlim. ? Tenho uma certa admiração por esse tipo de resiliência e, ao mesmo tempo, curiosidade sobre essa perspectiva de querer subjulgar a vida à sua vontade.

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Berlim também assistiu à projeção de ?Final portrait?, quinta experiência do ator Stanley Tucci na direção. O filme descreve a curiosa relação entre o escritor americano James Lord (Armie Hammer) e o artista plástico suíco Alberto Giacometti (1901-1966). De passagem por Paris, em 1965, James, um admirador das artes, é convidado por Giacometti para posar para um retrato. Dado a rompantes de excentricidades, o artista acaba estendendo o processo por semanas intermináveis. Lisonjeado e ao mesmo tempo fascinado pela figura de Giacometti, o escritor acaba deixando-se submeter aos caprichos do novo amigo.

* Carlos Helí de Almeida se hospeda a convite do festival