CARTAGENA ? A Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) selarão nesta segunda-feira o histórico pacto de paz para acabar com meio século de conflitos no país. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder máximo da guerrilha, Timoleón Jiménez (Timochenko), assinarão o acordo na cidade de Cartagena em uma cerimônia iniciada às 17h (horário local). Centenas de pessoas se reuniram no local para assistir ao gesto que marca o fim de quatro anos de negociações entre as duas partes em Havana. Para ser definitivamente colocado em prática, no entanto, o texto do pacto ainda deverá ser aprovado em um referendo nacional. colombiafarc
“Hoje posso dizer a vocês que vivemos a felicidade de um novo amanhecer para a Colômbia, uma nova etapa da nossa história, a de um país em paz!”, escreveu, mais cedo, Santos nas redes sociais.
Cerca de 2,5 mil pessoas vestidas de branco, entre elas 250 vítimas, estão presentes para escutar o anúncio que, por décadas, parecia uma realidade impossível: o fim da violência entre guerrilheiros, paramilitares e agentes do Estado. Os conflitos, que duraram 52 anos, deixaram cerca de 260 mil vítimas fatais, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
Na cerimônia, estão presentes 15 chefes de Estado, incluindo o presidente cubano Raúl Castro, anfitrião das conversações de paz intermediadas também por Noruega, Venezuela e Chile. Também fazem parte do evento histórico o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, e vários representantes de organizações internacionais. Líderes chegam à Colômbia para acordo de paz
O evento teve início com a abertura de uma porta com uma grande chave por Santos, para representar a chegada da paz ao país. Em seguida, entraram os líderes da comunidade internacional e Timochenko, que foi fortemente aplaudido. Houve um minuto de silêncio em homenagem às vítimas fatais do conflito e um canto de luto por mulheres colombianas.
Nesta segunda-feira, União Europeia decidiu suspender as Farc da sua lista de organizações terroristas. A medida deverá ficar em vigor por seis meses a partir da assinatura do acordo e, então, será revisada. A decisão, no entanto, não implica na retirada definitiva das Farc da lista criada em 2001 após os atentados de 11 de Setembro em Nova York, mas se traduz na suspensão das sanções adotadas contra o grupo rebelde, como o congelamento de ativos financeiros ou a proibição de colocar fundos à sua disposição.
ASSINATURA COM ‘BALÍGRAFO’
O acordo, um documento de 297 páginas que procura trocar ?balas por votos?, promovendo o desarmamento da guerrilha e sua transição para a vida política legal, será assinado com um ?balígrafo?: uma caneta feita com restos de balas usadas em metralhadoras e fuzis. Os líderes estrangeiros que vieram para a cerimônia serão presenteados com réplicas da criação, que leva a frase ?as balas escreveram nosso passado, a educação, o nosso futuro? inscrita em sua extensão.
A segunda-feira começou com uma homenagem à forças de segurança, a quem Santos agradeceu por ?seu sacrifício e importância?. O general Jorge Hernando Nieto, diretor da polícia colombiana, comemorou a conquista dos funcionários de ?silenciar os fuzis da guerra?, afirmou que todos eles construirão ?o caminho para a paz?.
Na igreja de San Pedro Claver, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e enviado do Papa Francisco para a cerimônia, comandou uma oração pela reconciliação dos colombianos, que se repetiu em vários centros de culto por todo o país.
Em Bogotá, centenas de pessoas assistem desde às 14h a um concerto pela paz na praça Simón Bolívar, onde poderão acompanhar o evento através de um telão.Correspondente: Acordo com as Farc ainda depende de referendo público