WASHINGTON ? A vitória de Donald Trump lança a incerteza sobre o mercado e a política americana sobre o que, na prática, pode ser revertido em realidade da inflamada retórica do republicano. Mesmo descompromissado com as diretrizes tradicionais do partido, que manteve a maioria do Congresso na eleição, o empresário marcou a campanha com a promessa de levantar a economia do país e restringir latinos e muçulmanos em solo americano. Veja em cinco pontos o que os analistas ressaltam sobre a matriz do programa que assume a Casa Branca a partir de 20 de janeiro.
Fronteiras blindadas
Uma das mais eloquentes propostas de Trump diz respeito à expulsão de todos os 11 milhões de imigrantes sem documentos dos Estados Unidos ? cruzada, segundo os próprios republicanos, de execução improvável ? e ao endurecimento da fiscalização nas fronteiras. Isso fora a promessa de erguer um muro na divisa com o México, pago pelo vizinho, e o banimento da entrada de muçulmanos. O republicano, mais tarde, suavizou o argumento: disse que focaria na retirada de ?milhões de criminosos? ilegais no país, não mencionou o pagamento do muro ao visitar o governo mexicano e diminuiu o veto à comunidade islâmica como apenas uma ?sugestão?. Há dúvidas quanto a viabilidade das propostas, que exigem negociação com os políticos tradicionais que Trump tanto criticou.
Livre comércio
A dianteira de Trump pode render a mais contundente mudança de diretriz comercial nos Estados Unidos, cuja maneira de negociar se mantém a mesma há décadas. A ideia do republicano eleito é reverter negociações de livre comércio, a exemplo do acordo entre Estados Unidos, Canadá e México, sob a alegação de que tamanha liberdade arriscou o emprego da classe média americana. O empresário do ramo imobiliário também advogou contra a produção de produtos da indústria tecnológica nacional no exterior e ameaçou impor altas tarifas alfandegárias a importações da China e do México ? em tom protecionista de quem quer evitar a evasão de postos de trabalho.
Mudança climática
Em dezembro de 2015, 195 países assinaram o Acordo de Paris em união ao combate à mudança climática. A retirada dos Estados Unidos do processo, como Trump propõe, dificulta o alcance do quórum necessário de nações para tirar do papel as medidas pensadas na reunião internacional. Prevê, na realidade, a adoção do que o mundo ambiental condena: mais combustíveis fósseis e menos regulação. O republicano ainda prometeu cortar a verba americana aos programas contra o aquecimento global da ONU.
Otan
Em debates e discursos, Trump deixou claro que não aceitaria prover ajuda militar sem enxergar contrapartidas proporcionais de aliados da Europa e da Ásia. Para o presidente eleito, os termos da Otan ? organização que reúne europeus e americanos em acordos de cooperação militar ? estão ultrapassados. Ele ecoa a desconfiança nada inédita dos americanos de que os membros não cumprem o gasto mínimo em defesa. Ainda assim, analistas duvidam que ele radicalize e retire os Estados Unidos de uma aliança vital em política externa vigente há seis décadas.
Rússia
A relação amigável entre Trump e o presidente russo Vladimir levou a Rússia ? mais do que o normal ? à pauta eleitoral americana deste ano. O republicano argumentava que deveria se relacionar bem com todos os chefes mundiais, também com Putin, a quem elogiou de ?forte líder?. Desafeto do presidente Barack Obama e da classe política americana como um todo, o russo constrange iniciativas internacionais americanas e contrapõe a postura de Washington na guerra síria ao apoiar o ditador Bashar al-Assad. Diante da tensão encrustrada entre os dois países, Trump diz que pretende checar se os russos são ?razoáveis? e que as nações hostis irão respeitar os Estados Unidos novamente.