RIO – O rosto de um homem que morreu há mais de 700 anos atrás foi reconstruído digitalmente por cientistas da Inglaterra, em meio a um projeto que busca obter novas informações sobre a vida de pobres anônimos na Idade Média. O resultado foi revelado na semana passada por pesquisadores, em meio a um seminário científico na cidade de Cambridge, na Inglaterra. Links arqueologia
O homem possivelmente morreu entre os anos 1200 e 1300, aos 40 anos, pelo menos. Seu corpo foi encontrado entre outros mil cadáveres no subsolo de um antigo hospital da cidade, o Hospital São João Evangelista, que se dedicava ao atendimento de pessoas pobres e enfermas.
A reconstrução facial foi conduzida por Chris Rynn, especialista em anatomia e identificação humana na cidade de Dundee. Ele usou técnicas forenses para estimar a estrutura facial, as mesmas usadas em investigações policiais na identificação de corpos em decomposição. Uma vez que a análise de DNA do homem for concluída, Rynn poderá colorir seus olhos e cabelos.
O trabalho de Rynn teve o auxílio de arqueólogos, que puderam fornecer informações sobre modos de vida da época.
“Ficou claro que este homem tem origem na classe trabalhadora urbana e pobre, possivelmente um pedreiro ou pequeno comerciante, ou um artesão. Ele viveu um bom tempo para sua época, e seus ossos mostram o perfil de um sobrevivente ? várias lesões pequenas e médias que causaram dor e desgaste, mas não o mataram”, indicou John Robb, do departamento de arqueologia e antropologia da Universidade de Cambridge.
MARCAS DE UMA VIDA DURA
Curiosamente, análises indicam que o homem tinha uma dieta rica em peixes ou carnes ? algo incomum entre a classe pobre, o que pode significar que ele participava de alguma rede socioeconômica que lhe dava acesso a estes alimentos. O homem tinha também uma estrutura muscular bastante marcada, sinal do uso da força no trabalho, além de problemas dentários, como abcessos. Pesquisadores diagnosticaram duas pausas na produção de esmalte nos dentes durante a juventude, uma indicação de doença grave ou fome.
Entre os corpos encontrados no terreno do antigo hospital, 400 estavam com ossadas completas e 600 parciais. Eles serão estudados pelos próximos quatro anos na tentativa de se obter mais informações sobre desde a nutrição à saúde dental dos cidadãos medievais comuns.
“Nós realmente não sabemos muito sobre como as pessoas pobres e comuns da Idade Média viviam suas vidas. A maior parte dos trabalhos tem focado ou nas classes médias altas ou em corpos de personalidades como Ricardo III”, defende o professor Roob.