Cotidiano

Cientistas observam como cérebros se comportam quando nos comunicamos

RIO ? Boas ideias muitas vezes se perdem ao se tentar transmiti-las, como bem sabem o professor de matemática que não consegue fazer seus alunos entenderem uma questão ou um comediante que recebe um silêncio sepulcral ao contar uma piada. Assim, numa tentativa de medir se alguém está entendendo a mensagem que estamos tentando passar e, melhor ainda, saber como melhorar esta comunicação, engenheiros biológicos da Universidade Drexel, na Filadélfia, EUA, em colaboração com psicólogos da Universidade de Princeton, também nos EUA, desenvolveram um equipamento de imageamento do cérebro que pode mostrar como os órgãos entram em sincronia quando humanos interagem.

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Batizado de sistema de espectroscopia funcional em infravermelho próximo (fNIRS, na sigla em inglês), ele usa luz para medir a atividade neural durante situações da vida real e pode ser vestido como uma bandana. Em artigo publicado nesta segunda-feira no periódico científico ?Scientific Reports?, os pesquisadores mostram que o equipamento pôde medir com sucesso a sincronização cerebral durante uma conversação, abrindo caminho para o uso da tecnologia no estudo de várias formas de comunicação humanas, desde a interação médico-paciente até a forma como as pessoas consomem notícias. Links cérebro

– Poder ver como múltiplos cérebros interagem é um contexto emergente na neurociência social ? justifica Hasan Ayaz, professor da Escola de Engenharia Biomédica, Ciência e Sistemas de Saúde da Universidade Drexel e um dos autores do artigo. – Vivemos num mundo social onde todo mundo está interagindo. E agora temos uma ferramente que pode nos dar informações mais ricas sobre como o cérebro se comporta durante tarefas do dia a dia, como a comunicação natural, que não podíamos obter em esquemas artificiais de laboratório ou de estudos de um único cérebro.

O estudo atual é baseado em pesquisas anteriores feitas por Uri Hasson, professor na Universidade de Princeton, que usou exames de ressonância magnética funcional (fMRI, também na sigla em inglês) para analisar os mecanismos subjacentes da produção e compreensão da linguagem. Hasson descobriu que a atividade cerebral de um ouvinte reflete a do cérebro do falante quando ele ou ela está contando uma história real de experiência de vida, com uma sincronia maior associada a uma melhor compreensão.

Mas estes métodos tradicionais de imageamento cerebral têm suas limitações. No caso da fMRI, por exemplo, a pessoa é obrigada a ficar deitada imóvel enquanto um barulhento aparelho faz as medições. Neste tipo de análise, é impossível escanear simultaneamente os cérebros de vários indivíduos enquanto eles conversam cara a cara. Diante disso, os pesquisadores decidiram investigar se um sistema portátil como o fNIRS poderia revelar esta sincronia cerebral de ouvinte e falante em um ambiente natural.

No estudo na ?Scientific Reports?, um falante nativo de inglês e dois de turco contaram uma história real de suas vidas de forma espontânea enquanto ela era gravada e seus cérebros escaneados. As gravações foram então escutadas por 15 falantes nativos de inglês, que vestiram o fNIRS para terem analisada a atividade das regiões pré-frontal e parietal de seus cérebros, que incluem as áreas envolvidas na capacidade de uma pessoa em discernir as crenças, desejos e objetivos dos outros. Ao medir a oxigenação e desoxigenação das células sanguíneas no cérebro destes indivíduos, os pesquisadores verificaram que a sincronização desta atividade com a dos que contaram sua história só acontecia na em inglês, a única que entendiam. Estes resultados também foram correlacionados com as pesquisas prévias de Hasson usando fMRI.

Desta forma, os cientistas acreditam que o fNIRS é uma ferramente viável para estudos futuros sobre a sincronização cerebral e interações sociais, oferecendo informações importantes para melhorar as comunicações em ambientes como salas de aula, encontros de negócios, comícios políticos e consultórios médicos, entre outros.

– Isto não seria factível com a fMRI ? destaca Banu Onaral, também professor da escola da Universidade Drexel. – Agora que sabemos que o fNIRS é uma ferramente viável, estamos entrando numa nova e excitante era em que podemos saber muito mais sobre como o cérebro funciona quando as pessoas se engajam nas suas atividades do dia a dia.