RIO ? Uma nova técnica para barrar a transmissão de doenças do Aedes aegypti foi divulgada nesta quinta-feira por pesquisadores americanos. Os cientistas conseguiram criar mosquitos geneticamente modificados que utilizam seu próprio sistema imunológico para combater o vírus da dengue. Uma alteração aedes feita no que seria o “fígado” do Aedes fez com ele aumentasse radicalmente a produção de fatores antivirais em seu organismo, impedindo-o de se infectar com o vírus da dengue, e, assim, anulando a transmissão da doença. Os testes não funcionaram para zika e chicungunha, mas os pesquisadores acreditam que a técnica pode ser aprimorada para trazer resistência também contra esses outros tipos de arboviroses.
O Aedes se infecta com o vírus da dengue toda vez que suga o sangue de um ser humano que está com a doença, e, dessa forma, pode transmiti-la para as próximas pessoas que forem picadas por ele. O novo estudo, publicado na revista científica “Plos One”, mostra que esse mosquito produz naturalmente antivirais contra a dengue, mas em um nível tão baixo que não são capazes de eliminar o vírus. O que a nova técnica faz, de forma inédita, é estimular essa habilidade natural a partir da interferência em determinados genes que atuam no “fígado” do inseto.
Depois dessa alteração, foi observado que a maioria dos mosquitos eliminou completamente o vírus, e que os poucos insetos que ainda se mantinham infectados registraram um nível viral baixo nas glândulas salivares, que é a via por onde eles transmitem doenças.
? Se você puder substituir uma população natural de mosquitos transmissores de dengue por organismos geneticamente modificados que sejam resistentes ao vírus, você pode parar a transmissão. Este é um primeiro passo rumo a esse objetivo ? diz o líder do estudo, George Dimopoulos, professor do Departamento de Microbiologia e Imunologia Molecular da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.
A equipe de Dimopoulos está trabalhando para, a partir de agora, testar modificações genéticas no que equivaleria ao intestino dos mosquitos. A hipótese é de que seja possível produzir fatores antivirais também neste órgão, tornando mais forte a resposta imune. Uma das apostas é de que isso possa, ainda, impedir a infecção por zika e chicungunha.
? É provável que, se ativarmos isso no intestino, possamos ter um efeito muito mais forte, sem comprometer a produção de ovos [que deverão ter a mesma característica genética] ? aspira Dimopoulos.