Cotidiano

Chuvas não dão trégua, afeta a colheita da soja e ameaça o milho 2ª safra

Plantação de soja. Foto: José Fernando Ogura/AEN
Plantação de soja. Foto: José Fernando Ogura/AEN

Cascavel – As chuvas são sempre bem-vindas no campo. Contudo, ela precisa ser cadenciada e dentro de um volume equilibrado. E não é bem isso que vem ocorrendo nos últimos dias na microrregião de Cascavel. Os volumes pluviométricos observados já superam a média histórica de fevereiro e preocupam os produtores, tanto aqueles que precisam colher a soja quanto aos que estão correndo contra o relógio para plantar a segunda safra de milho dentro da janela de cobertura das seguradoras, que expira em 28 de fevereiro. Para entender melhor o cenário atual, o Jornal O Paraná conversou com especialistas no assunto.

A economista do Deral (Departamento de Economia Rural) do escritório regional da Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel, Jovir Esser, aponta o atraso no plantio do milho segunda safra como principal impacto gerado pelo excesso de chuva. “Temos praticamente metade dos 28 municípios da área de abrangência da regional sem condições de ter a área de soja colhida para o plantio com o milho”, disse. Inclusive, há informações de produtores já querendo devolver as sementes de milho ante a possibilidade de não efetuar o plantio até o fechamento da janela. “Se o produtor optar em fazer o plantio fora da janela e sem cobertura da seguradora, não vai ter o resultado de produtividade por não aproveitar todo o potencial da lavoura”.

Conforme Jovir Esser, em lavoura que foi possível fazer a colheita nos últimos dias, a umidade gira em torno de 20% a 23%, quando o ideal é 14%. “Com isso, ele passa a arcar com perdas no momento da classificação do grão entregue”. A previsão de mais chuvas até o fim do mês gera problema também com as lavouras dessecadas.

Há informações de que em Espigão Azul, choveu até agora o equivalente a 440 milímetros e em outro ponto do município de Cascavel, 380 milímetros, acima da estimativa apresentada pelo Simepar.

Impactos

O presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso, que também é engenheiro agrônomo e produtor, aponta três eixos preocupantes. O primeiro, chuva com o dobro da média histórica. Orso confirmou que as lavouras estão sendo dessecadas para entrar com a segunda safra de milho. Em relação ao viés da soja, por enquanto, Orso disse que não compromete a qualidade, mas começa a preocupar porque os primeiros grãos da cachopa podem vir a ser danificados. “Se continuar dessa forma, com a chuva não permitindo espaço para o produtor entrar na lavoura para colher e esse cenário pode agravar e comprometer essas áreas dessecadas”.

O segundo e mais preocupante impacto, na ótica de Orso, é se essa umidade se perpetuará no mês de março. “A partir daí, vamos começar a ter perda de qualidade, gerando um impacto muito negativo na produção de grãos”. E o terceiro foco, não menos preocupante, envolve o plantio da segunda safra de milho. “Temos uma janela estreita para finalizar o plantio, não só pelo fato de ficar sem cobertura, mas sim por conta da produtividade. De agora para frente, a cada dia que passa, nós temos uma quebra significativa na previsão de colheita. Isso já compromete a segunda safra, muito mais do que essa que já está no campo colhendo”. Na avaliação de Paulo Orso, a região oeste colheu o equivalente a 15% da área total de soja. No Brasil, a estimativa divulgada ontem é de 25%.

Foto: AEN

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Chuva em Cascavel já supera a média histórica de fevereiro

Em Cascavel e região, do início do mês até terça-feira (21), choveu o equivalente a 287,6 milímetros, quantia superior à média histórica para o mês de fevereiro, que é de 173,4 milímetros. As informações foram confirmadas ontem (22) junto ao Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), pelo meteorologista Reinaldo Kneib. “Desde 2018 não chovia tanto neste mês em Cascavel”, comenta.

O recorde histórico de chuva em fevereiro ocorreu em 2018, quando foram registrados 439 milímetros. No ano seguinte, a situação voltou à normalidade, com 126,2 milímetros. “Esse ano voltou a ter o regime de verão mais normal, com uma situação atípica nos últimos sete dias, notabilizado pelo predomínio da massa de ar quente e úmido pairando sobre o Paraná, provocando um volume de chuva significativo, mais que o normal para o período”, explica Kneib.

A partir de agora, conforme o Simepar, há previsão de pancadas de chuva no período da tarde e no início da noite, até o fim do mês. Nos próximos dias, o calor volta a reinar com intensidade. A estimativa é de que até o fim do mês, as chuvas chegam a 300 milímetros em Cascavel. Para o início de março, a previsão é de tempo mais seco e uma chuva mais branda.