Uopeccan capacita profissionais para identificar sinais comuns da doença em crianças e adolescentes
Cascavel – Gripe, febre, dores no corpo, garganta, cansaço, sintomas comuns de doenças em crianças e adolescentes. Mas, e se todos esses sintomas persistirem? É neste momento que os pais precisam ficar atentos aos sinais.
“Costumo dizer sempre que é a mãe que conhece o filho. No momento em que ela vai procurar o médico é porque sabe que algo está errado. Pode ir quantas vezes for possível até encontrar um profissional que vai resolver o problema da criança”, relata a oncopediatra da Uopeccan, Carmem Fiori.
E foi devido a essa insistência que Evani Camargo, mãe de Marya, iniciou uma dura batalha contra o câncer. Em 2012, a pequena Marya sentia dores no pescoço e a princípio, a família achava que era apenas torcicolo. “Levamos num pediatra, que solicitou um raio X. Não descobrimos nada e na semana seguinte fomos em outro profissional, que também não fez o diagnóstico. Fomos também a um massoterapeuta, mas ninguém sabia o que era”, conta. “Ela sentia muita dor, principalmente quando ia dormir”, lembra a mãe.
Sem um diagnóstico concreto e danos aparentes, a família saiu de férias, que precisaram ser interrompidas. “Voltamos para casa, pois a Marya não estava bem. Fomos num outro médico, contamos todo o histórico, por onde havíamos passado, que exames tínhamos feito, e rapidamente ele pediu uma ressonância. E daí apareceu”. Um tumor raro na medula, onde só a cirurgia poderia amenizar o sofrimento. “Fomos para Curitiba e lá fizemos a cirurgia”, diz Evani. O procedimento um tanto quanto invasivo retirou 70% do tumor, o que deixou Marya sem os movimentos do lado esquerdo do corpo e na cadeira de rodas.
Depois de um mês, quando a família acreditava que o pior já havia passado, o resultado: o tumor era maligno. “Foi aí que entramos no mundo da Uopeccan”, comenta.
Em busca da cura
Em todo o mundo, aproximadamente 20% das crianças morrem por conta do câncer. Hoje, em Cascavel, por conta do programa de Diagnóstico Precoce da Uopeccan, implantado em 2008, as chances de cura às crianças e adolescentes em tratamento chegam a praticamente 75%. “Ainda perdemos muita criança, mas às vezes é também porque a característica da doença pode levar à morte, pois o câncer em criança é gravíssimo”, explica a oncopediatra. A média mundial é em torno de 80%.
O programa tem o apoio do Instituto Ronald McDonald, e prevê a capacitação de profissionais para que, ao se deparar com sintomas comuns e persistentes, possam desconfiar de que pode ser câncer. “Esse é um trabalho feito nacionalmente. Somos parte de uma equipe que objetiva melhorar os índices de cura em todo o Brasil”, relata Carmem. “Alguns médicos ainda não estão acostumados a conhecer sobre o câncer e por isso, o programa que a gente faz é para dar aula a esses colegas. Não é culpa deles não saber, muitas vezes os sinais são inespecíficos e o colega às vezes não tem muita noção disso e quando vai fazer o diagnóstico já está muito tardio”, acrescenta a médica.
Dar continuidade ao programa é um dos desafios da equipe, que conta com a participação da comunidade na campanha Mc Dia Feliz, que ocorre em Cascavel em 26 de agosto. Embora hajam dificuldades, os resultados são muito satisfatórios. “O número de crianças chegando é maior e elas estão vindo mais cedo. Isso facilita o tratamento, aumentam as chances de cura e reduz o tempo de tratamento e sofrimento. Quanto mais cedo chegar, melhor, visto que o câncer de criança não tem como prevenir, tem como diagnosticar precocemente”, acrescenta a médica.
A proposta é que logo na atenção primária, seja nas Unidades Básicas de Saúde ou nas Unidades de Pronto Atendimento, o médico avalie a criança e o adolescente de forma diferente, levante suspeitas e solicite exames mais assertivos.
Deu certo
“A minha insistência e rapidez do médico em diagnosticar o problema da Marya, ajudou muito na sua cura”, garante a mãe Evani. Hoje, a filha, que está com 12 anos, recuperou todos os movimentos e frequenta aulas de balé. “Nem parece que ela fez dois anos e meio de radioterapia e quimioterapia, perdeu cabelo, emagreceu. É uma história que me emociono toda vez que falo, choro de alegria e agradecimento a Deus. A regra da nossa vida é gratidão, pois vimos muitas famílias chorando a morte de seus filhos”, diz a mãe.
O diagnóstico definitivo de Marya não ocorreu, pois ela ainda toma medicamentos e faz exames periódicos. “Somente após cinco anos da última quimioterapia é que vamos respirar mais aliviados”, conclui Evani.
Mais comum
Cerca de 30% das crianças e adolescentes são acometidos pela leucemia. De acordo com Carmen, não há uma explicação para isso, mesmo sendo a doença mais frequente. Ela lembra que adolescentes de até 19 anos devem ser tratados com oncologia pediátrica, pois até essa faixa etária a patologia é mais parecida com uma criança do que com um adulto.