SÃO PAULO. Tânia Maria Silva Fontenelle, gerente financeira da Carioca Engenharia, afirmou no termo de depoimento de delação premiada que comprou vacas superfaturadas da empresa Agrobilara, que pertence à família de Leonardo Picciani, ministro do Esporte do governo de Michel Temer. A informação foi revelada nesta segunda-feira pelo jornal “O Estado de S.Paulo”.
Picciani foi líder do PMDB na Câmara e estava em seu quarto mandato quando assumiu a pasta, em maio passado. O pai dele, Jorge Picciani, é presidente da Assembleia Legislativa do Rio e o irmão dele, Rafael Picciani, é deputado estadual. Cada um deles tem 20% da Agrobilara, ao lado de outros dois integrantes da família.
Tânia disse que recebia os pedidos de acionistas e diretores da empreiteira para providenciar dinheiro em espécie e “simplesmente atendia às solicitações”, entregando para quem pediu ou a quem eles indicavam. Ela disse que não se envolvia e desconhecia os destinatários da propina, embora “obviamente sabia que a destinação dessas quantias era ilícita”. Para gerar o dinheiro, contou que fazia contratos simulados com prestadores de serviços. No caso da Agrobilara, ela afirmou que as vacas foram efetivamente entregues, mas parte do dinheiro foi devolvida à empreiteira.
“(…) também foram gerados recursos em espécie com a empresa Agrobilara Comércio e Participações, mediante a compra, por empresa do grupo da Carioca Engenharia, de animais bovinos com preços superavaliados; que os animais (vacas) foram efetivamente entregues, porém, parte do valor pago foi devolvida em espécie à Carioca”.
Segundo Tânia, as empresas que geravam dinheiro vivo para a Carioca cobravam uma comissão entre 25% e 30% do valor. Além de empresas como a Agrobilara, ela também recorria a um doleiro chamado Davies, num escritório na Avenida Rio Branco, no Rio. Ela disse que, aparentemente, a operação de câmbio também era ilegal. A executiva foi ouvida nesta segunda-feira pelo juiz Sérgio Moro, mas não falou sobre a Agrobilara, apenas sobre geração de dinheiro em espécie por empresas de Adir Assad, como a Legend e a Rock Star.
Leonardo Picciani é advogado e tem 36 anos. Foi eleito em 2002 pela primeira vez, com apenas 22 anos. Foi também presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, em 2007. De 2009 a 2011 foi secretário de Habitação do Rio de Janeiro, no governo de Sérgio Cabral (PMDB).
Picciani era aliado da presidente Dilma Rousseff. Teria chegado a orientar a bancada do PMDB na Câmara a votar a favor do impeachment, mas acabou votando contra