Cotidiano

Campo farto: VBP do Oeste cresce 15% e ultrapassa os R$ 19 bilhões

Toledo mais uma vez é o primeiro colocado com acumulado de R$ 2,2 bilhões; Cascavel vem em seguida

Reportagem: Juliet Manfrin

Fotos: Aílton Santos

 

A região oeste do Paraná se consagrou, mais uma vez, como um dos principais polos do agronegócio paranaense. Os dados preliminares do VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) são da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento), com ano-base 2016, e revelam que, dos três primeiros colocados no Estado, dois estão na região: Toledo e Cascavel.

Somados os 48 municípios que fazem parte dos Núcleos Regionais de Cascavel e Toledo o chamado PIB do campo totaliza R$ 19,175 bilhões. No ano passado o VBP somou R$ 16,620 bilhões, avanço de 15%.

Toledo, por exemplo, é a primeira colocada no ranking paranaense mais uma vez, com saldo de quase R$ 2,2 bilhões, cifra 11% maior que a do ano passado, quando o período de referência foi 2015.

“Desde a década de 1990 Toledo se mantém na ponta da tabela, ficou atrás dois ou três anos perdendo para a cidade de Castro, mas recuperou a vanguarda e se manteve nela”, afirma o ex-secretário de Agricultura do Município, José Augusto de Souza, que era o titular da pasta em 2016, quando esses índices foram apurados.

Profundo conhecedor das cadeias produtivas da cidade, José Augusto reconhece que isso é fruto da consolidação, diversificação e profissionalização do campo. “Temos propriedades muito bem preparadas, diversificadas e com produção de excelência, Além disso, precisamos citar as estradas rurais asfaltadas que facilitam o escoamento da produção e nada se perde. Devemos lembrar ainda que os carros-chefes deste bom índice estão na suinocultura, na avicultura, na produção de grãos, na cadeia do leite e na produção de ração”, destacou.

Quanto à produção de ração, a existência de pelo menos quatro grandes indústrias e a implantação de uma quinta tornam Toledo o principal polo produtor de alimentação animal do País. Além de atender o mercado interno, a exportação está se transformando numa marca registrada e de referência.

A vida no campo

Toledo, a principal economia agrícola do Estado do Paraná com base no VBP, tem um plantel de 850 mil cabeças de suínos com um abate anual de mais de 1,6 milhão de cabeças. São 8,6 milhões de aves no plantel estático com abate anual de 50 milhões de animais. Em torno de 8% de sua população, ou seja, cerca de dez mil pessoas, vivem no campo e são responsáveis pelo cultivo de 75 mil hectares de áreas agricultáveis.

Avicultura mantém Cascavel como referência

Segunda colocada no ranking do VBP no Estado, Cascavel soma R$ 1,7 bilhão, com destaque para a avicultura. Somente os frangos para corte responderam por R$ 258 milhões do VBP. Somados aos ovos galados e aos outros setores da avicultura, o setor responde por mais de R$ 600 milhões no VBP.

Os bons ventos que continuam soprando sobre o agronegócio revelam ainda que esse índice de frequência anual, calculado com base na produção agrícola municipal e nos preços recebidos pelos produtores paranaenses, continua avançando e com ganhos reais aos produtores e à economia das cidades.

Nenhum município coberto pelos núcleos regionais da Seab de Toledo e Cascavel registrou queda no VBP de 2015 para 2016.

A economista do Deral (Departamento de Economia Rural) Jovir Esser revela que esse levantamento engloba produtos da agricultura, da pecuária, da silvicultura, do extrativismo vegetal, da olericultura, da fruticultura, de plantas aromáticas, medicinais e ornamentais, da pesca, entre outros. “Ainda são dados preliminares, os municípios que não concordarem com eles têm até o dia 28 de julho para entrar com recurso e pedir revisão, mas no nosso núcleo geralmente não há recursos e os números continuam esses mesmos”, lembra. Os dados definitivos deverão ser publicados em agosto.

Para Jovir, os números de Cascavel poderiam ser ainda maiores não fosse a interrupção nos abastes de um frigorífico da cidade ano passado. “Todos esses aspectos interferem no momento de compilar os dados”, destaca. Mesmo assim, Cascavel avançou 10% em seu VBP. Ano passado o valor bruto da produção somou R$ 1,546 bilhão.

Exemplo de diversificação e renda

José Acir Seimetz é um filho da roça. Nasceu no campo. Os pais nunca saíram de lá, mas na adolescência saiu de casa para estudar. Formou-se em Engenharia Agrícola, trabalhou como empregado, mas recentemente resolveu abandonar a vida de carteira assinada e voltou para o berço. “Deixei meu emprego na cidade para me dedicar ao sítio com meu pai. Além dos rendimentos, isso aqui é qualidade de vida e acho que vou viver uns dez anos a mais”, brinca.

O chiqueirão abriga 310 leitos de engorda. O próximo lote chega nesta semana. Apesar de o momento não muito fácil para os produtores independentes, ele diz que, como integrado, a atividade está se mantendo rentável.

Para diversificar a propriedade de 46 hectares no Distrito de Espigão Azul, a família que também planta soja milho e trigo está expandindo as ações na avicultura.

Integrada de uma cooperativa de Cafelândia, ela está reformando o aviário de 2,4 mil m² onde vai alojar em agosto 35 mil aves. A terraplanagem para uma segunda estrutura do mesmo porte já está pronta. Assim que a primeira obra for concluída, a outra começa. “São investimentos altos, pretendemos pagá-los em dez anos se tudo der certo. É uma luta diária, mas se não diversificar e não arriscar, não se sobrevive no campo”, encerrou.

José é um exemplo hoje escasso da manutenção da família no campo. Pai de duas filhas, uma de seis anos e outra de um mês, ele ainda não sabe se as crianças seguirão os passos do pai, mas afirma que não pretende mais abandonar esta vida.