LONDRES – Ex-capitão do exército britânico que serviu no Afeganistão, Ed Stafford tornou-se conhecido ao estrelar programas em que trava uma batalha pela própria sobrevivência nos lugares mais inóspitos do planeta. Já foi visto numa caminhada de 860 dias ao longo do rio Amazonas (partiu do Peru, em 2008, e encerrou a jornada no Brasil, em 2010, uma empreitada que o fez entrar até para o Guinness); e passou 60 dias nu, sozinho, sem comida e munido apenas de uma câmera numa ilha, ao sul de Fiji, em 2012. Aos 40 anos, teve essas e outras impressionantes aventuras transformadas em séries para a televisão.
Links de TV_14.08No ar com a segunda temporada de ?Ed Stafford ? O sobrevivente?, exibida pelo Discovery, às 23h10m, às terças, o britânico será visto esta semana no que considera um de seus maiores desafios. Terá que sair de uma ilha localizada no rio Usumacinta, na Guatemala, sem ser atacado por crocodilos. Ele passou dez dias no país para gravar o episódio.
? Normalmente, escolho o país que irei visitar para depois pensar em um lugar especificamente. Passo quase duas semanas filmando e outras duas me recuperando ? detalha Stafford, que costuma carregar em suas viagens pouca coisa além da câmera com a qual registra suas aventuras.
O britânico viaja com um time pequeno. Em geral, com outras duas ou três pessoas.
? Mas fico os dez dias por minha conta, sozinho, sem ter contato com ninguém ? frisa ele: ? As pessoas da equipe ficam acampadas numa distância de 10 km de mim.
Antes das gravações, ele passa dois dias conversando com os locais para aprender o máximo possível sobre a região e trocar dicas de como fazer um abrigo, por exemplo.
SEM ÁGUA E SEM COMIDA
Stafford carrega ainda na bagagem uma maleta de primeiros socorros. Água e comida ficam de fora. O aventureiro diz que às vezes há a necessidade de ter um médico na equipe. Mas somente quando os lugares escolhidos para as gravações são muito remotos.
? Tudo depende do lugar e do quão rápido a gente poderia conseguir um profissional em caso de emergência. Na Patagônia, por exemplo, tivemos um médico a bordo.
O aventureiro aparece descalço e sem camisa na maioria dos episódios. A nova leva de ?Ed Stafford ? O sobrevivente?, que começou a ser exibida na semana passada, tem seis episódios com uma hora de duração cada um. O deserto de Gobi, na Mongólia, foi escolhido para o primeiro episódio. Ainda nesta segunda temporada, ele passará pelas Filipinas, pela Patagônia argentina, pela Noruega e pela Namíbia.
Em tempos em que as pessoas estão cada vez mais conectadas, o britânico atribui o interesse do público pela atração ao contraste de ver alguém se virando num ambiente selvagem.
? Acho que as pessoas têm uma curiosidade natural para saber como sobreviveriam em determinadas situações, tendo que caçar a própria comida e construir seu próprio abrigo.
Mas, para ele, a ideia do roteiro é ir muito além da questão da luta pela sobrevivência:
? O programa é mais sobre como você controla sua mente e mantém o seu pensamento positivo. Não estamos apenas mostrando um homem contra o meio ambiente. É um homem enfrentando o meio ambiente e ele mesmo.
Stafford diz que manter o otimismo é a parte mais difícil de todo o processo.
? Às vezes estou congelando ou com fome… É muito fácil entrar em pânico e cometer erros. Quando se está isolado, a tendência é ficar neurótico. É preciso manter o foco.
A meditação, conta, é uma grande aliada nesses momentos.
? Chego a meditar três vezes ao dia durante as viagens, mas não sou um mestre zen (risos).
Retornar ao Brasil está nos planos futuros do aventureiro, que fala com entusiasmo do tempo que passou na Amazônia.
? Tenho orgulho dessa viagem. A parte em que andei pelo Peru foi mais difícil, as pessoas foram negativas em relação ao que eu estava fazendo. Mas foi maravilhoso quando cheguei ao Brasil. As pessoas me davam comida e não aceitavam dinheiro. Eu me senti muito bem-vindo. Todos sorriam e perguntavam o que eu estava fazendo, de onde eu era. Pareciam bastante curiosas sobre a jornada, e de uma maneira positiva ? recorda.
O especialista em sobrevivência diz ter mudado de atitude após a jornada, que durou mais de dois anos.
? Antes, era obcecado em chegar ao fim da expedição. Eu não me preocupava em aproveitar cada dia. Toda a viagem passou a ser mais fácil quando parei de me preocupar com isso e abri os meus olhos para o que estava acontecendo no presente.
Ao ser indagado sobre o que mais sente falta nas viagens, Stafford primeiro cita comida, para depois falar de companhia. E confessa que, na rotina fora do programa, foge de aventuras.
? Para ser honesto, fico em casa quando não estou viajando. Jogo handebol, cuido do jardim, me ocupo de afazeres domésticos. Nada envolvendo riscos.
*Zean Bravo viajou a convite do Discovery