BRASÍLIA – Pela primeira vez em dois anos, o governo brasileiro vai levar ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, um time reforçado, visando ao resgate da credibilidade do país, perdida com o desequilíbrio fiscal, a grave e prolongada recessão e os escândalos de corrupção. Vão desembarcar nos Alpes na próxima semana – para eventos que reúnem a elite global, em uma semana de debates sobre os rumos e desafios da economia mundial – os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, do Desenvolvimento, Marcos Pereira, e de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O presidente Michel Temer também planejava ir, mas acabou desistindo para acompanhar de perto a reta final das eleições para o comando da Câmara dos Deputados. Ele também foi aconselhado a não correr o risco de ter que responder a algum questionamento sobre a legitimidade de seu governo depois do impeachment de Dilma Rousseff.
A ex-presidente nunca foi grande fã do evento. Compareceu apenas em 2014. Em 2015, representaram o Brasil o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o ex-presidente do BC Alexandre Tombini. Em 2016, foi a vez do ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa tentar mostrar o Brasil como um mercado interessante para investimentos. A missão não era fácil diante da desconfiança em relação à capacidade de Dilma de reequilibrar as contas públicas e retomar o crescimento da economia. Davos
Agora, a expectativa da equipe econômica é obter mais sucesso. Segundo interlocutores do governo, Meirelles poderá destacar em suas conversas avanços concretos, como a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos, essencial ao ajuste fiscal. Ele também vai falar sobre as propostas de reforma da Previdência e das relações de trabalho e o recente pacote de medidas para turbinar o Produto Interno Bruto (PIB).
? A mensagem é de otimismo. Há boas notícias sobre a inflação, e o governo conseguiu avançar em sua agenda de reformas do Congresso. Isso é uma perspectiva positiva ? disse um integrante da equipe econômica.
Meirelles esperou até o último minuto para confirmar sua participação no fórum. Ele chegou a considerar não participar do evento por causa das negociações do acordo de ajuda financeira ao Estado do Rio. Mas, a pedido de Temer, ele encontrou como solução ir a Davos para algumas reuniões e voltar ao Brasil mais cedo. Ele embarca no fim de semana e retorna na quarta-feira. Na quinta, estará em Brasília para a assinatura formal do acordo com o Rio.
O principal evento na agenda de Meirelles é a tradicional reunião do Business Interaction Group on Brazil (BIG Brazil), onde autoridades do governo brasileiro se encontram com grandes investidores interessados no mercado nacional. Segundo interlocutores da área econômica, se Temer viesse a Davos, esse certamente seria um compromisso em sua agenda. Meirelles também deve participar de três eventos organizados pelo próprio Fórum, sobre reforma da Previdência, conjuntura na América Latina e sobre a relação entre América Latina e o novo governo dos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump, que tomará posse no dia 20 de janeiro, último dia do evento.
Meirelles vai se reunir com investidores e com grandes empresários. Na agenda do ministro estão encontros com os presidentes do Grupo ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, da AT&T, Randall Stephenson, do UBS, Axel W. Weber, e do Lloyd’s, John Nelson. Outros nomes previstos na agenda do ministro são os da executiva do Facebook, Sheryl Sandberg, e o do presidente da Bolsa da Nova York, Thomas Farley.
Na área de comércio, o ministro Marcos Pereira vai aproveitar para conversar com representantes de países com os quais o Brasil quer fechar acordos comerciais como México e Canadá. Ele também vai lançar as negociações entre o Mercosul e um bloco de países europeus, a Associação Europeia de Livre Comércio (composta por Noruega, Suíça, Islância e Lienchenstein).
? O Brasil deve aproveitar o Fórum para debater temas que estão muito fortes na agenda internacional. Um dos assuntos será o atual viés protecionista no mundo. Vamos mostrar que o Brasil está na contramão disso e quer fechar acordos comerciais ? disse o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto.
Rodrigo Janot também terá participação destacada, em painéis sobre corrupção nos quais certamente será abordada a Lava-Jato. Ele vai participar de debate da Iniciativa Conjunta de Combate à Corrupção (Paci, na sigla em inglês) com empresários do setor de infraestrutura e desenvolvimento urbano, além de representantes do setor público de países europeus e asiáticos. Caberá ao procurador-geral listar os avanços do Brasil no combate à corrupção. Ele também falará sobre combate a crimes cibernéticos, na mesa sobre Parceria Público-Privada.
O tema do Fórum é ?Liderança Responsiva e Responsável?, e um dos focos de debate será a retomada do crescimento global. O evento de 2017 terá um recorde de participantes: mais de 3.000 pessoas de mais de cem países, incluindo 1.200 CEOs (altos executivos) e 50 chefes de Estado e de Governo.