RIO – As irregularidades na produção de carnes de gigantes do setor encontradas pela Polícia Federal afetam a imagem do Brasil no exterior e podem levar à criação de barreiras fitossanitárias, prejudicando as exportações brasileiras, segundo especialistas. O país é o maior exportador de carne bovina e de frango, além de ocupar o quarto lugar nos embarques de suínos. Juntos, os três segmentos responderam por 6,9% das exportações em 2016 ou R$ 11,6 bilhões.
A operação da PF está majoritariamemte focada em carne bovina, mas especialistas acreditam que a repercussão negativa se dará nos demais segmentos. Eles avaliam que as irregularidades são pontuais, mas o dano à imagem do país já foi feito, o que pode levar tanto ao endurecimento das exigências para a importação de carne como suspensão temporária da compra do produto brasileiro.
? É uma situação muito preocupante. Pessoalmente, acredito que as irregularidades sejam pontuais e devem ser investigadas. Mas é muito ruim para nossa imagem, para nossa reputação. Muitos países podem rever as exigências (fitossanitárias) e pedir para enviar equipes próprias para fiscalização ? afirma Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M. Jorge.
No comércio internacional de carnes, cada país apresenta exigências específicas, a certificação de venda é individual. É comum que cada nação envie de tempos em tempos equipes próprias para fiscalização nos frigoríferos brasileiros. Da mesma forma, qualquer questionamento é feito individualmente e diretamente ao governo brasileiro, sem que haja necessidade de passar pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
? Não será surpresa se algum país suspender as importações de carne brasileira. As empresas terão de adotar uma política de esclarecimento e serem bastante agressivas comercialmente. Para não perderem clientes, podem ter que oferecer descontos ? avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
Caso algum país de fato levante barreira fitossanitária e o Brasil entenda que cumpre as exigências, aí sim o governo brasileiro pode recorrer à OMC para defender o acesso ao mercado que está fechado. Hoje, há dois casos na OMC envolvendo carne e frango brasileiros, ambos contra a Indonésia.