RIO ? O Polo Norte é um dos símbolos do Natal, por servir de lar para o Papai Noel, mas nesta temporada de festas o clima não anda tão bom no extremo norte do planeta. Pelo segundo ano consecutivo, as temperaturas estão muito acima da média histórica para o mês de dezembro. De acordo com as previsões, nesta quinta-feira os termômetros devem registrar cerca de 25 graus Celsius acima do normal, se aproximando perigosamente do ponto de derretimento.
Pelo Twitter, o pesquisador Zachary Labe, da Universidade da Califórnia, em Irvine, divulgou o alerta com a previsão da temperatura atmosférica para os próximos dias. ?Impressionante… Modelo indicando temperaturas do ar na superfície pairando logo abaixo do ponto de fusão?. O climatologista ressalta que se trata apenas de uma previsão, e que os dados devem ser lidos com precaução, mas ?as anomalias na temperatura estarão entre 20 e 25 graus Celsius acima do normal?. As anomalias são tão grandes que os gráficos utilizados normalmente não possuem escala de cores para ilustrar o que está acontecendo.
? É muito intenso ? disse Ryan Maue, meteorologista da WeatherBell Analytics, em entrevista ao ?Washington Post?.
De acordo com os especialistas, o aquecimento está relacionado com uma poderosa tempestade no leste da Groenlândia. O modelo climático europeu estima que a baixa na pressão da região está perto dos 945 milibares, o que seria comparável a um furacão de categoria 3. Além disso, ressaltou Maue, o derretimento das camadas de gelo no leste dos Mares Nórdicos abriu uma passagem para a subida do ar quente para altas latitudes.
? Você tem mais espaço disponível para o transporte do ar quente e úmido para o norte ? afirmou o meteorologista.
Um relatório divulgado semana passada pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) revelou aquecimento ?sem precedentes? da temperatura do ar no Ártico entre outubro do ano passado e setembro deste ano, com redução recorde nas camadas de gelo sobre os mares e na cobertura de neve sobre a Groenlândia. E o degelo permite que o oceano se aqueça acima do normal.
? O oceano quente age como uma barreira para evitar que a temperatura do ar esfrie ? analisou Labe. ? A persistência e a magnitude das temperaturas acima da média no Ártico são impressionantes.
Um artigo publicado na semana passada na revista ?Nature? analisa o cenário do ano passado, que também registrou temperaturas bem acima do normal. Kent Moore, autor do estudo, explica que o fenômeno é conhecido como ?amplificação ártica?, e se caracteriza como um evento de aquecimento durante o inverno.
?Eles ocorrem um ou duas vezes a cada década e o primeiro evento foi detectado em 1959?, afirmou o pesquisador da Universidade de Toronto, no artigo.
Contudo, o artigo afirma que o mesmo fenômeno foi registrado em 2014. Dessa forma, este ano seria o terceiro consecutivo a apresentar um evento de aquecimento anormal durante o inverno no Polo Norte. Além disso, Moore afirma que a magnitude desses eventos está cada vez maior. Em 2015, chegou a chover durante o inverno na região do Ártico, em vez de nevar.
?A ocorrência de chuva em altas latitudes podem levar a estresse significativo na infraestrutura do Ártico, assim como para mamíferos herbívoros?, diz o estudo.
O questão para a comunidade científica é se esses eventos se tornarão mais comuns, o que geraria impactos ainda mais profundos nos ecossistemas da região e, potencialmente, alterações climáticas em níveis globais.
? Eu não acredito que alguém possa responder com certeza ? disse Labe. ? A variação no Ártico é tremenda. É comum termos períodos curtos de temperaturas acima do normal.