O ano de 2016 foi de recordes para o cinema nacional. Foram 143 filmes lançados e 30,4 milhões de ingressos vendidos. Porém, estes números escondem uma realidade menos cor de rosa. Apenas 12 filmes superaram 500 mil entradas e foram responsáveis por 82% dos ingressos vendidos.
Na matéria publicada no Globo do dia 14 de março, produtores e Ancine apontam que os problemas desta situação estariam na distribuição. Importante esclarecer o papel do distribuidor. Muitos acham que sua função é apenas cuidar da venda dos filmes. Na verdade, seu papel começa muito antes. O distribuidor identifica quais projetos tem potencial de mercado. Colabora financeira e artisticamente com os realizadores no desenvolvimento dos projetos e na sua produção, avaliando o roteiro, escalação de elenco e corte final. Zela para que o projeto se mantenha nos trilhos e alcance seu potencial máximo, quando a hora do encontro com o público chegar. Então, seu ato final é montar e executar a estratégia do lançamento.
Esclarecimentos feitos, acredito que as razões para essa grande quantidade de filmes produzidos que não encontram espaço nas telas de cinema é que, salvo honrosas exceções, estes são realizados na sua origem sem planejamento, sem compromisso com resultado, sem parceria com um distribuidor. A verdade é que os maiores sucessos do cinema brasileiro nasceram da colaboração estreita entre distribuidores e produtores.
Essa colaboração é política fundamental em diversos países que têm uma indústria audiovisual poderosa. Como exemplo: Índia, Coreia do Sul, Japão, França e sobretudo os Estados Unidos. A atividade audiovisual, além de sua importância como expressão artística, é acima de tudo uma indústria, que movimenta centenas de milhões de reais. O que está em jogo é um mercado imenso, disputado avidamente por corporações multinacionais.
A conquista do mercado interessa ao Brasil, pois filmes nacionais geram emprego e renda aqui. Filmes de Hollywood geram emprego e renda lá. Se queremos um audiovisual brasileiro forte e diversificado, precisamos entender essa realidade. É o único caminho.
*Bruno Wainer é diretor da distribuidora Downtown Filmes, responsável pelo lançamento de obras como ?Minha mãe é uma peça 2? e ?Os Saltimbancos Trapalhões?