Antoni Gaudí e Barcelona estão espiritualmente ligados. Gaudí nasce em 1852, apenas alguns anos antes de o engenheiro Ildefons Cerdà apresentar seu Plano de Reforma e Extensão da cidade, em 1859. ?Ensanche? é ?extensão? em espanhol, ?eixample? em catalão, como é denominado o distrito além do núcleo original medieval. Em 1867, Cerdà escreve seu Tratado Geral da Urbanização, consolidando suas teorias sobre o equânime desenvolvimento territorial, tanto do ponto de vista social como da infraestrutura, criando uma nova palavra e uma nova ciência: o urbanismo.
Cerdá era um socialista utópico. Gaudí era um humanista religioso. Separados pelo tempo, mas unidos pela retícula do Eixample. É nela, graças ao apoio e aos encargos da sociedade industrial catalã, especialmente de Eusebi Güell, que Gaudí realizará suas principais obras-primas, como a Casa Batlló (1906), a Casa Milà ou La Pedrera (1912) e, claro, a igreja da Sagrada Família, iniciada em 1886 e cuja conclusão, em 2026, pretende celebrar o centenário da morte do arquiteto.
O racionalismo do Eixample, controlando alturas, densidades construídas, impondo sobre o lote a forma e o interesse coletivo urbano, não impediu Gaudí de explorar a plasticidade das fachadas, via formas orgânicas, cuja ornamentação alude a elementos da natureza. A estrutura apresenta-se como outra dimensão construtiva, de amplos espaços, verticais e luminosos. Gaudí cria uma identidade única, onde se reconhece a escala da mão, da artesania, ao mesmo tempo em que é possível apreciar o complexo equilíbrio da edificação com os esforços impostos pela física. Ou seriam por Deus?
Gaudí realizava seu trabalho como sacerdócio, tendo mantido celibato por toda a vida. Sua espiritualidade, entretanto, não ofuscava o criativo geômetra ? compreendia poeticamente a força da gravidade, e, com ela, estabelecia comunhão.
Em 1984, sete obras de Gaudí foram inscritas na Unesco como patrimônio da Humanidade.
A exposição é oportunidade imperdível para ter contato com magníficas maquetes monumentais e compreender esse homem raro, unido à sua cidade e à paisagem.
Washington Fajardo é arquiteto e urbanista