RIO A reunião das críticas de Sábato Magaldi em livro recém-lançado recebeu o título apropriado de Amor ao teatro, e não apenas por ter se dedicado, dos anos 1950 ao final da década de 1980, ao exercício jornalístico de analisar as temporadas do Rio e de São Paulo, mas também pela atuação como professor, ensaísta, espectador obstinado, visionário de carreiras e avalista de tendências.
Nas primeiras resenhas, no Diário Carioca, defendeu com desassombro a dramaturgia de Nelson Rodrigues, de quem se tornaria amigo e teórico de sua obra. A opinião sempre fundamentada não excluía os atores populares, dimensionando o anárquico estilo de Dercy Gonçalves ou destacando as qualidades de intérprete de Chico Anysio. O Teatro de Arena e as formulações cênicas de Augusto Boal foram acompanhadas com atentas e desbravadoras reflexões, estendidas a autores, como Jorge Andrade, Plínio Marcos e Maria Adelaide Amaral.
O rigor, expresso em escrita límpida e sem concessões a adjetivos, não sofreu qualquer arranhão no período da ditadura, mesmo quando obrigado a malabarismos verbais. Seu ativismo intelectual o conduz à secretaria municipal de Cultura de São Paulo, o alinha com os debates sobre os modos de produção e o identifica com os movimentos reivindicatórios da classe teatral. Mas, mesmo ao se confundir com a ação artística fora dos palcos, mantém a independência e autoridade para apontar tremendo equívoco do Teatro Oficina e precário resultado dos espetáculos nos balanços anuais das temporadas.
Sucessor de Décio de Almeida Prado em jornal, foi, ao lado do decano, responsável pela formação da crítica no período da moderna cena nacional, que fixou em obras como Panorama do teatro brasileiro. A aluna Mariângela Alves de Lima, ao comentar suas publicações, lembrou que nos livros de Sábato não existe aquela lassidão digressiva que prejudica boa parte da nossa (de outro modo valiosa) produção acadêmica.
Figura amável, de fala suave e mineiramente matreiro, Sábato anotou, ao longo de décadas de prática profissional, casos de bastidores e detalhes de coxia a que sua discrição impôs definitivo ineditismo. A elegância da forma e a acuidade da observação, exercidas com disciplina, ética e nenhuma condescendência, marcaram a impecável atuação de testemunha de mais de 50 anos do teatro brasileiro. A sinceridade na prática como reflexo da densidade da teoria se resume na sua constatação de que o amor pelo teatro e a boa-fé são as qualidades primeiras da função do crítico.