Cotidiano

Artigo: Lei da vingança avança em madrugada enlutada

O projeto das 10 Medidas foi desfigurado na Câmara de Deputados durante a madrugada enlutada que o país viveu. Uma a uma, as propostas foram sendo desvirtuadas e rejeitadas até que não sobrasse praticamente nada de seu espírito inicial. Lamentável, mas, ainda assim, são as regras do jogo. Projetos de lei são apresentados, modificados, votados, aprovados ou rejeitados. Mesmo quando apoiados por mais de 2 milhões e meio de eleitores. Faz parte.

Difícil é aceitar que este mesmo projeto, fruto da indignação nacional com a corrupção sistêmica a que assistimos, tenha servido de pretexto para aprovar uma lei que intimida juízes e membros do ministério público, tolhe sua independência, cala suas bocas e criminaliza suas consciências. Justo no momento em que estes mesmos juízes e procuradores jogam luzes sobre crimes dos ricos e poderosos. Isto é jogo sujo. Retaliação. De que adianta terem criminalizado o caixa 2 e aumentado as penas da corrupção se não haverá procuradores e juízes com independência para processar os criminosos?

O projeto ainda precisa ser aprovado no Senado. Resta a esperança de que lá o bom senso e o respeito à nação retornem, embora seja esperança pouca, dadas as circunstâncias notórias que cercam os protagonistas.

Sabemos que na Itália, quando a Operação Mãos Limpas atingiu em massa a classe dos políticos e empresários, o congresso aprovou a Lei Salva Ladrões que impediu que o processo continuasse. O Brasil parece seguir o mesmo roteiro para estancar a sangria da Lava Jato. Caso aprovado no Senado, poderemos escolher o melhor nome para expressar este absurdo: lei da vingança, lei de intimidação, lei de acovardamento da justiça. Mas se quisermos ser fiéis às nossas tradições e ficarmos no espírito italiano, poderá ser a Lei da Pizza. A maior que o Brasil já viu.