O lançamento por parte dos Estados Unidos de duas bombas atômicas contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, causou um sofrimento humano difícil de imaginar e impossível de medir. Muitos historiadores consideram que foi uma decisão inevitável diante da negativa do Japão de se render, uma espécie de um atroz mal menor diante da possibilidade de que o conflito se prolongasse por meses. Porém, outros especialistas acreditam que foi um ataque estratégico, uma mensagem à URSS, quando o Japão, arrasado pelos bombardeios convencionais, encontrava-se à beira da capitulação. Hiroshima
A visita de Obama a Hiroshima reabre um debate muito além da História, que adentra dilemas difíceis de avaliar em tempos de paz e sob a ética e normas das guerras (se estas palavras não representam uma contradição em termos). A revista de história da BBC realizou uma pesquisa em agosto de 2015 ? 70º ano do lançamento da bomba atômica ? entre os principais historiadores ocidentais da II Guerra Mundial sobre justificativas de um ataque tão devastador. Antony Beevor, pesquisador mais conhecido do período, assegurou: ?Poucas ações numa guerra são moralmente justificáveis. Tudo o que qualquer comandante em chefe pode fazer é estabelecer se uma ordem pode reduzir o número de vítimas. Diante da decisão japonesa de não se render, o presidente Truman tinha muito poucas opções.?
Richard Overy sustenta, entretanto, que não foi uma decisão ?moral, sabendo que a bomba mataria civis e, sobretudo, não era necessária?: ?O Japão estava militarmente acabado, e um bloqueio e mais destruição urbana teriam provocado uma rendição em agosto ou setembro.? Robert James Maddox sustenta por sua vez: ?O uso de bombas atômicas foi horrível, mas estou de acordo com o secretário de Defesa dos EUA: ?Era a última e horrível escolha.? Uma invasão convencional e bombardeios constantes eram os outros caminhos. Portanto, as bombas salvaram a vida de milhares de americanos e de milhões de japoneses.? E Martin J. Sherwin assinala: ?Não. O Japão teria se rendido de qualquer maneira. Ao lançar a bomba, os EUA deixaram ao mundo a mensagem de que as armas nucleares eram legítimas numa guerra.?
As divisões entre historiadores se reduzem, ao final, a dois argumentos: lançar a bomba era necessário para evitar a invasão e precipitar a capitulação do Japão ou foi crime de guerra, porque não tinha nada a ver com a rendição de Hirohito, mas sim com o crescente enfrentamento com a URSS. Poucos discutem a legitimidade de utilizar uma arma de consequências devastadoras numa guerra que rompeu qualquer conceito do que era moral ou imoral para derrotar um inimigo que, nunca se pode esquecer, cometeu crimes tão selvagens que foi necessário inventar uma nova palavra ? genocídio ? para descrevê-los.