Enquanto estava deitada em minha poltrona, assistindo às garças alisando as penas no banco de areia que surgiu com a maré baixa, alheias a minha observação, senti os primeiros sinais da rendição. O abandono não vem sem uma luta obstinada. A vida no continente ? trabalho, trânsito, filhas adolescentes, um monte de obrigações ? é um frenesi sem fim que nos consome.
Mas as Florida Keys sempre nos oferecem uma saída de emergência. Elas obrigam ao relaxamento, dando um jeito, sabe-se lá como, de diminuir as batidas do coração até mesmo dos mais incorrigíveis multitarefas. Isso se torna ainda mais verdadeiro aqui na Little Palm Island, uma ilhota privada de dois hectares com um punhado de veados travessos e um encorajamento: largue tudo.
O Little Palm Island Resort and Spa me induziu a esse estado de espírito no momento em que meu marido e eu chegamos na área do desembarque e do check-in na Little Torch Key, que fica a 30 minutos de carro para o norte de Key West. De lá, você pega um barco e em 15 minutos está na ilhota. O veículo fica para trás, como o número do cartão de crédito (não precisamos pensar nele novamente até que a espantosa conta chegasse ? os preços vão de US$890 a US$1.700 por noite, sem impostos e taxas). Em seguida, fomos embora, com um drinque com rum chamado Gumby Slumber na mão, a bordo do Truman, um barco com painéis de madeira e o nome do presidente que usou Little Palm como acampamento de pesca.
Em Little Palm, não existem carros nem saguão, apenas uma camareira que nos cumprimentou no cais e nos conduziu pelas trilhas de areia labirínticas para nossa cabana. A primeira coisa que percebi foi o silêncio. Não ouvi toques de celular ou conversas (os celulares são proibidos nas áreas públicas). Nenhum esporte explodindo nas TVs (há apenas uma televisão no resort). Nenhuma criança com menos de 16 anos (nenhum grito ou choro). Com apenas 30 suítes na propriedade, as conversas são escassas, mesmo em volta da pequena, mas convidativa piscina e da fina fatia de praia. Não esperávamos que a tranquilidade nos deixasse inebriados, mas foi o que aconteceu enquanto pensávamos nas várias horas vazias que tínhamos pela frente. Como uma viciada em atividade em recuperação, vi a luz: o nada é a felicidade.
Os casais, alguns na idade da aposentadoria, poucos em seus 30 anos, deitavam indulgentemente em cadeiras de praia sob guarda-sóis, lendo livros de verdade ou iPads. Muitos tiravam uma soneca, com certeza o passatempo mais comum por aqui, com a bebida chegando em um distante segundo lugar. Os coquetéis bem feitos, como o Gumby Slumber, com coco ralado, e o mojito com pedaços de melancia e um toque de pimenta, são difíceis de resistir. A música suave ? um pouco de jazz latino, um pingo de calypso, um retorno à new age ? tocava durante o dia, mas não tinha a intenção de sacudir os cérebros.
Meu marido, Don, ficou maravilhado com o serviço incrível, que qualquer pessoa que paga os preços do Little Palm deveria esperar. Quando fomos para o bar à beira da piscina para pegar nossa primeira rodada de mojitos, o bartender sabia o número da nossa suíte apenas de nos olhar e nem pediu minha assinatura (o dinheiro parece uma ilusão aqui; não há transações. Eles registram os gastos para você). Um café-da-manhã com panquecas leves e uma omelete fofa foi servido em nossa varanda. Nós nos sentimos em casa quando um veadinho nos olhou com expectativa, implorando por restos, parecendo nosso labrador preto.
Na manhã seguinte, persuadi meu preguiçoso marido a trocar a cadeira de praia por um passeio de caiaque. Valeu muito a pena, pelo menos para ver de perto os guarás, as grandes garças azuis e os corvos-marinhos vagando nos manguezais ? a intocada Flórida em seu melhor momento.
Apesar de a ilha ser totalmente adepta à ideia de colocar o visitante em uma espécie de devaneio tropical, o resort estraga o trabalho de administrar as expectativas dos hóspedes. Em um hotel com apenas uma opção de restaurante, os jantares foram uma decepção colossal. Pelos preços exorbitantes ? de 49 a 68 dólares pelos pratos ? a comida deveria ter acompanhado o cenário suntuoso: mesas com toalhas de tecido na praia, um por do sol hipnotizante, tochas acesas, uma fogueira nas proximidades e, uma noite, um doce jazz ao vivo. Afinal, as Keys têm a ver com peixe fresco assim como Minnesota com bancos de neve. Ainda assim, a garoupa estava sem gosto. A vitela sem graça. A torta de limão murcha. O macarrão com queijo não chegava aos pés dos prontos.
Alguns hóspedes anteriores publicaram outras queixas on-line, e a maioria poderia ter sido facilmente neutralizada se o site do resort fosse mais franco sobre as imperfeições das Keys. No por do sol, mosquitos invisíveis saem de seus esconderijos no mangue para começar o banquete. Vivemos no Sul da Flórida, então sabíamos que era melhor trazer o repelente. Mas muitos hóspedes podem vir despreparados.
Apesar dos problemas, foi terrível ir embora, um sentimento comum se a rotina de despedida do resort servir de indicação. De volta ao carro, que estava nos esperando, abrimos nossos presentes de despedida: um purificador de ar, um livro sobre o resort, garrafas de água gelada e uma mensagem de encorajamento: ?Não fique triste porque acabou. Fique feliz que aconteceu?.