Cotidiano

Apple, Samsung e Microsoft analisam vulnerabilidades após relatos de invasão pela CIA

TEC--WikiLeaks-Consumers

WASHINGTON ? Várias empresas de tecnologia reagem à revelação de que supostamente tiveram seus produtos comprometidos a fins de espionagem pela Central de Inteligência americana (CIA). Na terça-feira, o site WikiLeaks divulgou 8.761 documentos que apontam o uso de softwares elaborados para invadir smartphones, computadores e até mesmo TVs conectadas à internet. Embora a CIA não tenha confirmado a autenticidade dos documentos, o vazamento aumenta as suspeitas de que a agência possa ter ultrapassado limites na vigilância sobre os cidadãos.

De acordo com os supostos documentos vazados, a CIA invadiu smartphones e computadores e desenvolveu um programa chamado Weeping Angel capaz de invadir smartTVs como a Samsung F800, transformando-as em microfones mesmo quando elas parecem estar desligadas. Segundo as informações divulgadas pelo WikiLeaks, o consulado americano em Frankfurt, o maior do mundo, estaria no centro da espionagem, com equipes de especialistas digitais da CIA e outras agências de Inteligência dos EUA. O material vazado seria do período entre 2013 e 2016.

Após o vazamento, a Apple emitiu um comunicado detalhado para afirmar que já estava analisando algumas das potenciais vulnerabilidades do sistema operacional em seus aparelhos.

?A tecnologia construída no iPhone de hoje representa a melhor segurança de dados disponíveis aos consumidores, e nós estamos constantemente trabalhando para mantê-la assim?, disse a companhia. ?Enquanto nossa análise inicial indica que muitas das questões vazadas hoje já estavam corrigidas no mais recente iOS, nós vamos continuar a trabalhar para rapidamente resolver qualquer vulnerabilidade identificada.?

A Samsung também se pronunciou sobre a história, após alegações nos documentos de que suas televisões da séria F8000 haviam sido invadidas por uma ferramenta desenvolvida com a MI5, a agência de Inteligência do Reino Unido.

?Proteger a privacidade dos consumidores e a segurança dos nossos aparelhos é uma prioridade na Samsung?, afima a nota da empresa. ?Nós estamos cientes do relato em questão e estamos urgentemente analisando a questão?.

A Microsoft também afirmou que estava ciente dos documentos vazados e tomando providências, uma vez há relatos de que computadores com o sistema Windows também haviam sido alvo da espionagem da CIA. Já a Google não quis comentar as alegações de que a agência conseguiu controlar telefones Android. A Linux também não se pronunciou sobre o caso.

PROTEÇÃO DIGITAL

Além de questões sobre os limites de atuação da agência, o novo vazamento dos supostos documentos, batizado de ?Vault 7? (Cofre-forte 7), se confirmado, também põe em xeque a capacidade da espionagem dos EUA de proteger seu material secreto na era digital, já abalada pela divulgação de informações confidenciais sobre operações militares em Iraque e Afeganistão, em 2010, e sobre programas de vigilância conduzidos pela Agência de Segurança Nacional (NSA), em 2013.

Ao contrário do que aconteceu anteriormente, desta vez o WikiLeaks suprimiu nomes e informações que pudessem identificar agentes e funcionários da CIA. Em alguns casos, agências da Inteligência britânica teriam se unido às suas congêneres americanas para desenvolver as técnicas de espionagem.

?As novas divulgações são excepcionais do ponto de vista político, legal e forense?, afirmou o editor-chefe do WikiLeaks, Julian Assange, atualmente asilado na embaixada equatoriana em Londres.

Embora a fonte por trás dos vazamentos não tenha sido revelada, o site afirma que os documentos ?circularam sem autorização entre ex-agentes da Inteligência americana e empresas ligadas ao governo, antes de chegarem ao WikiLeaks?.

Responsável pelo vazamento que expôs, em 2013, um amplo esquema de espionagem montado pela NSA, o ex-agente da CIA Edward Snowden considerou autênticas as revelação do WikiLeaks.

?Os nomes de programas e escritórios são reais. Apenas uma pessoa com conhecimento interno poderia reconhecê-los?, destacou Snowden no Twitter. ?É a primeira evidência de que o governo americano pagou secretamente para manter os softwares americanos desprotegidos. Imagine um mundo no qual a CIA passa o tempo tentando descobrir como espioná-lo pela sua TV. É o que vivemos hoje?.

De acordo com Snowden, os relatórios ?mostram o governo desenvolvendo vulnerabilidades, e depois intencionalmente deixando os buracos abertos?.

?Por que isto é perigoso? Porque até ser fechado, qualquer hacker pode usar o buraco de segurança que a CIA deixou aberto para invadir qualquer iPhone no mundo?, advertiu ele, asilado na Rússia.

Os documentos também citam um programa batizado de Umbrage: uma enorme biblioteca de técnicas de ciberataques coletadas de outros países, incluindo a Rússia, que seriam usadas pela CIA para mascarar as origens de ataques cibernéticos. A informação surge num momento particularmente sensível, em meio a suspeitas de que hackers russos tenham roubado e divulgado e-mails do Partido Democrata numa tentativa de influenciar as eleições americanas, em novembro do ano passado. Na ocasião, o então candidato republicano, Donald Trump, elogiou o site por divulgar e-mails de sua rival na corrida presidencial, Hillary Clinton.