Cotidiano

Análise: Velha prática, novo tempo

A prática que levou ontem à cadeia o ex-governador Anthony Garotinho é rigorosamente a mesma que o alçou ao poder no Rio. Ancorado na necessidade permanente da população em torno de políticas sociais imediatas, Garotinho e família instituíram por oito anos seu poder no estado, dando a essas políticas um viés clientelista. Para se eleger ou se manter no poder, replicaram práticas usualmente associadas ao coronelismo do Nordeste. Em áreas do estado que repetem índices baixíssimos de pobreza, Garotinho tentou ser um Messias. Usou as políticas sociais para se forjar como um distribuidor de renda. Na prática, se mostrou um grande benfeitor de si mesmo, em uma era pré-Moro.

Houve denúncia de uso explícito da máquina do governo do estado e uma investigação sobre o esquema intrincado de lavagem de dinheiro público para bancar sua campanha. Surgiram ainda indícios claros de mistura entre religião e política. Para ele, houve também a frustração de ver interrompido o projeto de se candidatar à Presidência da República, por ter sido flagrado misturando o Estado com a campanha.

Num Brasil que se passa a limpo, e fora do escopo de Moro, a prisão de Garotinho se torna simbólica. O país não tolera mais o que antes assimilou como natural. É um encontro de contas com o que vivemos. E um choque de realidade de Garotinho com a qual ele não viveu há pouco menos de dez anos. A tolerância com o erro encolheu.