Cotidiano

Análise: Aloysio não queria a Justiça, mas sonhava com o Itamaraty

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BRASÍLIA ? Ex-ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) brincava na semana passada que não tinha interesse em voltar ao cargo ? quando a bolsa de apostas estava aberta antes da escolha de Osmar Serraglio ? e brincou que não queria mais ninguém “mandando nele”. Mas a resposta mudou quando se tratou de comandar o Itamaraty. Aloysio nunca escondeu sua satisfação em ter comandado a Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) no biênio 2015-2016.

Nesta quinta-feira, Aloysio conversou com o presidente Michel Temer. Somente depois do convite feito chegou o senador José Serra, que deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores na semana passada por motivo de doença.

Aloysio Nunes

A atuação de Aloysio na CRE e sua proximidade com diplomatas foi fundamental para a escolha de seu nome, com aprovação do corpo diplomático, segundo interlocutores do Palácio do Planalto.

O temperamento forte de Aloysio, também é visto como uma virtude em fazer a política externa ter mais vigor. Em 2015, no comando da CRE, o tucano se envolveu diretamente na crise na Venezuela, tendo participado da missão que foi àquele país. Em junho de 2015, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), liderou uma visita ao país, quando a oposição brasileira teve problemas e não conseguiu se encontrar com as lideranças oposicionistas locais.

O trabalho na CRE do Senado no biênio de 2015-2016 abriu caminhos para que o corpo diplomático aceitasse bem seu nome. No Senado, Aloysio tem atuação e temperamentos fortes. Em várias ocasiões, deu declarações fortes contra a gestão do PT. Segundo integrantes do Ministério das Relações Exteriores, a atuação de Aloysio à frente da CRE ajuda.

O tucano é muito ligado ao seu antecessor, José Serra (PSDB-SP). Na prática, o presidente Michel Temer trocou um tucano por outro de perfis parecidos.

No plenário do Senado, Aloysio costuma entrar em vários embates, principalmente com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

? Se o presidente Temer indicasse o patrono do Senado, Rui Barbosa, para o STF, o PT seria contra ? bradava Aloysio no último dia sete de fevereiro, em meio às discussões sobre a indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF).

O tucano também é conhecido por ter um temperamento forte, às vezes sem paciência. Quando foi anunciado vice na chapa de Aécio Neves na eleição presidencial de 2014, o próprio Aloysio brincou com seu estilo e prometeu ser mais ?zen?. Mesmo com seu passado de lutas ao lado da presidente Dilma Rousseff, Aloysio saiu batendo na petista, afirmando que não aceitará provocações.

Na ocasião, Aloysio disse que tinha ?couro duro? e que tentaria não cair mais em provocações.

Foi ministro de duas Pastas do governo Fernando Henrique: Justiça e Secretaria Geral da Presidência. Foi ainda secretário estadual de Transportes Metropolitanos, secretário de Governo do município de São Paulo e secretário-chefe da Casa Civil do governo do estado de São Paulo. Além de amigo de Fernando Henrique, Aloysio é próximo do ex-senador José Serra. Ao lado dele e de José Gregori, eles faziam o núcleo do governo Fernando Henrique.

Em 2010, retornou com força ao cenário de Brasília. Nas eleições de 2010 obteve para o Senado a maior votação da história do seu Estado: 11.189.158 votos. O tucano bateu o recorde de mais votado estabelecido pelo petista Aloizio Mercadante, em 2002, com 10.491.345 votos.

Mas foi beneficiado, no processo eleitoral de 2010 por dois movimentos: primeiro o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) desistiu de concorrer ao Senado e acabou falecendo em dezembro daquele ano. Além disso, Romeu Tuma (PTB) concorreu doente ? teve problemas em setembro, permanecendo internado durante a campanha ? e acabou falecendo no dia 26 de outubro de 2010.

Agora, o suplente de Aloysio que assumirá o Senado será justamente Airton Sandoval (PMDB-SP), apontado pelos tucanos como “quercista histórico”. Ele era na verdade o suplente de Quércia, que desistiu de concorrer em 2010. A bancada do PMDB cresce para 23 senadores. Em contrapartida o PSDB perde um senador e cai de 12 para 11.