Cotidiano

Alex Aino, produtora: 'Os julgamentos acontecem pela aparência'

201606141845381376.jpg“Tenho 32 anos e sou de São Paulo. Quando ainda era criança, eu me interessei pelo universo geek através das animações japonesas. Aos 15 anos, consegui fazer o meu primeiro cosplay, vestida de um personagem da época. Eu me apaixonei por esse hobby. E nunca mais parei.?

Conte algo que não sei.

Fazer cosplay é brincar de se fantasiar, é poder interpretar uma fantasia. É algo que a gente faz desde criança, desde sempre. As pessoas que ainda preservam essa vontade da infância não precisam esperar o carnaval. Você pode fazer o que quiser, ser quem quiser, quebrar todas as barreiras e se divertir de maneira pura e despida de preconceitos e das coisas ruins que o ser humano carrega. É o momento em que você tira as roupas, veste o personagem,e se diverte plenamente.

Então, é uma tentativa de resgatar uma felicidade que se tem na infância?

Com certeza. O adulto tem uma cobrança de ter de ser adulto e fazer determinadas coisas. Não falo das cobranças do dia a dia, mas de cobrança social. Tem gente que me pergunta: “Como você vai explicar isso para seus filhos?” Mas o que mais tem por aí é família fazendo cosplay junta.

E entre os praticantes, há alguma barreira? Idade, por exemplo?

O cosplay quebra barreiras. Existe gente mais velha se vestindo de criança, e criança de adulto; homem fazendo mulher, magro fazendo gordo, e o contrário também. Ninguém se importa. As pessoas são muito abertas. Muitos LGBTs tomam coragem para se assumir fazendo cosplay. Há pessoas trans que aproveitam um personagem de outro gênero para ir fazendo a transição social. Eu já vi de tudo, e, o principal, é que é uma cultura de respeito à individualidade do próximo.

E fora do meio, não há preconceito contra os adeptos?

Sim. Desde antes de fazer cosplay o nerd já sofre preconceito. Hoje está muito melhor, a cultura geek está na moda, tem série de TV sobre isso, há eventos gigantes. Tanto que podemos colocar o nome geek nesses eventos sem as pessoas acharem que é um reunião de gente maluca. Então, quando o nerd resolve fazer cosplay coloca para fora essa cultura, e é mais julgado ainda. Mas acredito que a partir do momento em que a pessoa resolve vestir a fantasia, ela não liga mais para isso, principalmente porque quando se assume um personagem ele nos dá uma força muito grande. São símbolos de coisas positivas. Conheço pessoas que têm níveis de autismo e se sentem melhor de cosplay. É como se fosse uma armadura, mesmo sem ser, literalmente.

Já teve problemas por fazer cosplay e continuar no universo geek depois de adulta?

Já, principalmente quando entrei para o mercado de trabalho considerado adulto. Tive uma chefe que achava que eu não tinha capacidade de fazer nada, quando, na verdade, era o contrário. O programa que as pessoas demoravam meses para apreender, eu consegui em duas semanas. Isso acontecia porque eu era diferente, tinha cabelo colorido e gostava de coisas não convencionais. As pessoas de fora do mundo geek julgam muito, só de ver um cabelo colorido já acham que a pessoa vive na balada e se droga todas as noites. Sou uma dessas nerds que nem bebem uma gota de álcool. Os julgamentos acontecem exclusivamente pela aparência.

Qual a principal motivação para adotar esse hobby?

Ele dá a oportunidade ao geek de extravasar o amor ao ídolo. Por mais que ele não possa voar e soltar raios, vai vestir uma roupa, subir no palco e viver essa fantasia. Atividades desse tipo fazem muito sucesso entre os nerds. O RPG, por exemplo. Permite sair um pouco da realidade, desse mundo chato em que vivemos, do trabalho e das obrigações. O cosplay ajuda os tímidos. Quando vestem o personagem quebram a inibição e fazem amigos.