BERLIM ? Com o governo do presidente americano Donald Trump pressionando as nações aliadas a reforçarem seus setores de Defesa, o debate sobre incrementar o poderio militar ganha foco na Alemanha. Caso consiga atingir os objetivos de Washington, o país europeu estará no caminho para ter, mais uma vez, o maior exército da Europa Ocidental. E, mesmo com rejeição ? principalmente por parte dos próprios alemães ? de um reforço militar alemão, as novas políticas transatlânticas de Trump fazem com que o governo reconsidere essa questão.
Nas últimas semanas, cerca de 500 soldados alemães chegaram à Lituânia para um deslocamento incerto perto da fronteira russa. A ação ? liderada pela Alemanha, mas que conta com forças menores da Bélgica, Holanda e Noruega ? é considerada pelos especialistas como a operação militar mais ambiciosa na região desde o fim da Guerra Fria.
? Com todo o respeito ao Estados Unidos, mas vocês tenham cuidado com o que desejam ? disse o tenente-coronel Torsten Stephan, porta-voz das tropas alemãs na Lituânia. ? O senhor Trump diz que a Otan pode estar obsoleta e que devemos ser mais independentes. Bem, talvez nós seremos. Info – Forças armadas Alemanha PIB
Para muitos na Lituânia, a Alemanha é considerada o bastião dos princípios da democracia e um dos maiores defensores dos direitos humanos. Frente às pressões dos EUA sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os lituanos pedem uma Alemanha mais forte ao seu lado, como afirma o ministro da Defesa, Raimundas Karoblis.
? Acho que a liderança dos EUA (na Otan) deva ser mantida, mas também precisamos de uma chefia na Europa ? afirma Karoblis. ? Por que não a Alemanha?
O ministro lituano afirmou ainda que, com o processo de separação do Reino Unido, a Alemanha é o país com mais garantias de estabilidade na região.
Recentemente, a polícia lituana, junto com alguns políticos importantes e jornais, receberam e-mails falando sobre uma adolescente de 15 anos ter sido supostamente violada por soldados da Alemanha. O governo da Lituânia desmentiu rapidamente as alegações ? mas não antes do boato ser espalhado por contas falsas em redes sociais. As autoridades investigam se russos estariam por trás do caso. Enquanto isso, sites pró-Rússia utilizam antigos estereótipos, fazendo menções ao líder nazista, Adolf Hitler, e retratando a implantação da Otan na Lituânia como uma ?segunda invasão? pela Alemanha.
Desde a chegada de Trump, a discussão só aumenta entre políticos e na imprensa. No mês passado, o Ministério da Defesa anunciou planos de expandir de 166.500 a 200 mil soldados o contingente militar. Após 26 anos de cortes, o investimento em Defesa sobe 8%. A chanceler federal Angela Merkel defendeu com cautela o aumento no Exército, mas sua ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, defende os reforços dizendo que o país ?não pode se esquivar?.
? Se Trump mantiver seu tom, os EUA deixarão a defesa europeia nas mãos dos europeus de uma maneira que não é vista desde 1945 ? avaliou Berthold Kohler, publisher da ?Frankfurter Allgemeine Zeitung?.
Para muitos alemães, no entanto, há diversas razões para que o país não assuma essa posição de liderança. Os argumentos vão de despesas excessivas com o Exército até o medo de uma nova corrida armamentista. Segundo uma pesquisa feita pela revista alemã “Stern”, 55% a população são contra novos investimentos na defesa do país nos próximos anos ? enquanto 42% são a favor.