RIO – Famílias de crianças doentes que necessitam de medicamentos feitos com elementos da maconha e médicos que apoiam a luta dessas pessoas criaram uma campanha de financiamento coletivo para custear um laboratório na UFRJ que vai ajudar na elaboração desses remédios.
A iniciativa no site Catarse.me, que busca arrecadar de R$ 60 mil para montar o laboratório e começar as análises dos extratos feitos pelas famílias com a planta, já reuniu 54% da meta, ou cerca de R$ 33 mil, até a manhã desta segunda-feira. Ainda faltam sete dias de campanha.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza a importação de remédios feitos com substâncias como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), retiradas da maconha. Mas a importação exige burocracia, e esses remédios são muito caros (até R$ 15 mil mensais).
Por isso, famílias que precisam desses medicamentos cultivam a planta em casa e, com ajuda de pesquisadores e médicos simpatizantes da causa, aprendem a extrair da maconha o óleo capaz de reduzir a frequência de convulsões em pacientes com doenças ligadas ao sistema nervoso.
Só que as famílias não têm como verificar, de forma precisa, o teor de cada substância presente no extrato caseiro, o que é essencial para que se possa padronizar a dosagem segura e eficaz do medicamento para cada paciente.
É aí que entra o laboratório FarmaCanabis. Criado pela professora da UFRJ Virgínia Carvalho, pós-doutora em toxicologia pela USP, o projeto se propõe a analisar gratuitamente os teores de canabinoides como THC, THCA, CBD, CBDA e CBN nos medicamentos importados e naqueles produzidos pelas famílias dentro de casa.
Três famílias no país conseguiram liminares da Justiça para o plantio caseiro com fins de produzir o óleo, mas maioria das pessoas cutliva a canabis e produz o extrato de forma clandestina, uma vez que a maconha é uma planta proscrita no Brasil. A condição de ilegalidade, dizem os ativistas, só prejudica o tratamento de pessoas doentes.
A campanha de financiamento coletivo oferece uma série de recompensas, dependendo do valor que a pessoa decide doar para a causa. Os prêmios incluem visitas guiadas e acompanhamento da análise do óleo vegetal e até mesmo um curso de oito horas com a professora Virginia sobre a farmacologia e a toxicologia da canabis.