Falou em frango, pensou na região Oeste do Paraná e também em toda a cadeia envolvida na produção de uma das proteínas animais mais consumidas do mundo. Os números são expressivos e falam por si. De acordo com o Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas), o Oeste abate 2,2 milhões de aves por dia e a cadeia do frango é responsável por quatro milhões de empregos no Brasil e um milhão deles estão no Paraná que, sozinho, responde por mais do que o volume somado dos outros três principais exportadores nacionais – Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Neste cenário, Cascavel contava com mais de 21 milhões de aves em 2022 – crescimento de 5,2% com relação ao ano anterior – o que colocou a cidade como líder no ranking nacional na produção de frangos. São 6.273 granjas somente na região Oeste.
Assim, é de se imaginar o impacto de qualquer má-notícia relacionada à atividade avícola nossa região, como a de quinta-feira (18), quando o Ministério da Agricultura e Pecuária suspendeu as exportações de frango e derivados após a confirmação de foco da doença de Newcastle, no interior do Rio Grande do Sul. Apesar de toda a preocupação com a notícia surpreendeu o setor, até o fechamento desta edição, além dos órgãos oficiais, cooperativas e frigoríficos não quiseram se manifestar, aguardando ainda mais detalhes do encaminhamento da situação.
O chefe do departamento de saúde animal da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), Rafael Gonçalves Dias, informou à reportagem do Jornal O Paraná que não tomará nenhuma medida por enquanto, uma vez que os focos da doença estão bem restritos ao Rio Grande do Sul.
“Aqui no Paraná estamos acompanhando diretamente estes embargos, que afetam diretamente o estado, que é o maior produtor e maior exportador de carne de frango. Nós acessamos diretamente mais de 150 países e, obviamente, que este fato no Rio Grande do Sul nos afeta, apesar de que para cada país há uma negociação, um tipo de certificado exigido”, analisou Dias.
Paraná
O Paraná abateu 3,83 milhões de cabeças a mais entre janeiro e março de 2024 do que em relação ao mesmo período do ano passado (de 546,9 milhões para 550,7 milhões), uma alta de 0,7% que só foi menor do que a registrada em Santa Catarina, onde houve aumento de 7,13 milhões de unidades. Com isso, o Estado alcançou um novo recorde entre todos os trimestres da série histórica analisada pelo IBGE. O Paraná também manteve uma ampla margem na liderança do segmento, respondendo por 34,6% da produção nacional, bem à frente de Santa Catarina (13,6%) e Rio Grande do Sul (11,9%), que completam o pódio.
Empresas da região
A região Oeste conta com atuação da Diplomata, CVale, Lar, Copacol, BRF, Globoaves, Coopavel, Unitá e a Pluma – que fica em Dois Vizinhos. São empresas e cooperativas que atuam diretamente no abate dos milhões frangos diariamente, além de outras tantas empresas na região que produzem insumos para abastecer esta cadeia produtiva, que gera milhares de empregos e movimenta a principal fatia da economia local.
Suspensões
Segundo o governo, para países como China, Argentina, Peru e México, a suspensão vale para todo o Brasil, por enquanto.
Do estado do Rio Grande do Sul, ficam restritas as exportações para África do Sul, Albânia, Arábia Saudita, Bolívia, Cazaquistão, Chile, Cuba, Egito, Filipinas, Geórgia, Hong Kong, Índia, Jordânia, Kosovo, Macedônia, Mianmar, Montenegro, Paraguai, Polinésia Francesa, Reino Unido, República Dominicana, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan, Ucrânia, União Europeia, União Econômica Euroasiática, Uruguai, Vanuatu e Vietnã.
Em um raio de 50 km do foco não podem ser exportados carnes de aves, farinha de aves, penas e peixes para uso na alimentação animal e produtos cárneos cozidos, termicamente processados, não comestíveis derivados de aves, para o Canadá, Coreia do Sul, Israel, Japão, Marrocos, Maurício, Namíbia, Paquistão, Tadjiquistão, Timor Leste. Os certificados para esses destinos com data de produção até 8 de julho não entram nas restrições e poderão ser emitidos, informou o ministério.
Rio Grande do Sul
No caso do Rio Grande do Sul, o presidente da ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura), José Eduardo dos Santos, sinalizou que o estado produz em cerca de 160 mil toneladas mensais de carne de frango e exporta cerca de 60 mil toneladas. A entidade prevê que o impacto gerado pela Doença de Newcastle possa atingir em torno de 5% da produção total do estado e 15% do volume exportado.
Tanto a ABPA quanto a ASGAV sinalizaram que o prazo do embargo dependerá de cada país comprador, podendo durar mais ou menos tempo. Normalmente se fala em um tempo de 21 dias a partir do prazo de despovoamento da granja afetada e da destruição da granja atingida, explica Santin. Ele acrescenta que os prazos de reabertura dos mercados ocorrem gradativamente, à medida que as informações são levadas aos países importadores.
Santos destaca que foram realizados 12 testes em 7 mil aves que morreram com a enfermidade na granja de Anta Gorda e apenas um deu positivo para a doença, embora nenhuma outra ave da propriedade tenha apresentado suspeitas clínicas de enfermidade. Também foi realizado o sacrifício sanitário de outras 7 mil aves, a partir de um processo de despovoamento e destruição da propriedade.
Santin ressalta que a origem da doença pode estar atrelada a uma chuva de granizo que atingiu a propriedade, seguida por dias seguidos de frio, o que pode ter desencadeado o processo da doença, que teria surgido por meio de contato de uma ave com um pombo.
Santin afirma que o achado ocasional desse caso mostra que o sistema de defesa sanitária do Rio Grande do Sul e do Brasil funcionou para demonstrar que está sendo feito todo um trabalho eficaz para solucionar mais rapidamente o problema, envolvendo a segurança alimentar tanto da população brasileira quanto dos países para os quais o Brasil exporta.
Emergência zoossanitária no RS
O Ministério da Agricultura publicou, na sexta-feira (19), Portaria que declara estado de emergência zoossanitária no Estado do Rio Grande do Sul. A medida vale por um prazo de 90 dias, em função da detecção da infecção pelo vírus patogênico da doença de Newcastle em aves comerciais. A declaração de emergência prevê uma vigilância epidemiológica de forma mais ágil com a aplicação dos procedimentos de erradicação do foco.
A população não deve se preocupar e pode continuar consumindo carne de frango e ovos, inclusive da própria região afetada. O Mapa reforça que o consumo de produtos avícolas inspecionados pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO) permanecem seguros e sem contraindicações.
Com objetivo de reforçar as ações de enfrentamento às situações de emergência fitossanitária ou zoossanitária, o Ministério da Agricultura e Pecuária elaborou um Projeto de Lei (PL), já aprovado pela Casa Civil e que se encontra neste momento em análise pelo Congresso Nacional.
ABPA: Embargo pode afetar até 7% da produção brasileira de frango
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) estimou, sexta-feira (19), que o embargo de países importadores devido ao foco de Doença de Newcastle no Rio Grande do Sul pode afetar de 5% a 7% da produção brasileira de carne de frango.
O presidente da ABPA, Ricardo Santin, informou que o Brasil possui uma expectativa de produção de 1,2 milhão de toneladas de carne de frango nos próximos dois meses e que o impacto dos embargos poderá chegar a um volume de 50 a 60 mil toneladas. Esses volumes não seriam necessariamente represados no mercado interno, pois poderiam ser redirecionados para outros mercados que não foram embargados, explica.
Santin destaca que, com o embargo, pode haver uma sobra maior de produtos no mercado interno, mas não a ponto de trazer riscos de um excesso de oferta e de mudança nos atuais patamares de preços.
No caso das exportações, o impacto da Doença de Newcastle poderia atingir até 15% dos embarques brasileiros, levando em conta um volume previsto mensal da ordem de 430 mil toneladas.