BUENOS AIRES – A Mesa de Unidade Democrática (MUD) venezuelana encerrará nesta sexta-feira o período de trégua em seu conflito com o governo do presidente Nicolás Maduro, que aceitou a pedido do Vaticano como condição para iniciar o diálogo com o Executivo. Segundo confirmou ao GLOBO o secretário geral da MUD, Jesús Torrealba, após um novo encontro das mesas de trabalho, nesta sexta, a oposição venezuelana ?anunciará sua agenda de luta? para os próximos dias e semanas. Em sintonia com outros dirigentes de peso da MUD, Torrealba reafirmou que ?a única saída possível para a crise venezuelana é eleitoral e implica uma mudança de governo?.
O fim da trégua não significa o abandono das negociações por parte da maioria opositora que integra a MUD – o partido Vontade Popular continua fora das conversas -. De acordo com Torrealba, ?a oposição vai continuar na mesa de diálogo, que é um espaço de luta, como o Parlamento e as ruas?.
? Não existe contradição entre diálogo e rua. Estamos convencidos de que não haverá mudança na Venezuela se não houver ação nas ruas ? assegurou o secretário geral e principal porta-voz da MUD.
As conversas medidas pelo Vaticano e respaldadas pelos principais organismos regionais, entre eles Mercosul, Organização de Estados Americanos (OEA) e União de Nações Sul-americanas (Unasul), ainda não renderam grandes frutos. O Palácio Miraflores continua negando a possibilidade de uma solução eleitoral e a MUD insistir em dizer que essa é a única saída possível.
? Não resolveremos a crise política se não mudarmos o governo, se não votarmos. Este governo é um obstáculo para mudar a economia ? declarou o governador do estado Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles.
Já o presidente Maduro disse que a oposição deveria ?calar a boca e trabalhar?. O clima de tensão continua, e estudantes de Caracas voltaram a manifestar-se em frente a uma sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), para exigir a realização de um referendo revogatório sobre o mandato de Maduro.
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana tem sido analisada pela MUD, mas os opositores venezuelanos ainda não têm claro qual será o impacto deste resultado em seu país e, principalmente, nas negociações com o governo.
? É uma incógnita. Justamente por isso, todos deveríamos ser responsáveis e acelerar os tempos. Somos cautelosamente otimistas, porque é negociar ou mergulhar na violência ? disse Torrealba.
Na quinta-feira, circularam em Caracas rumores sobre a liberação de novos presos políticos. De acordo com a MUD, atualmente 130 dirigentes e estudantes que participaram de protestos contra o governo de Maduro estão detidos.
? São mais de 2 mil processos judiciais contra dirigentes da oposição. É difícil que possa haver um acordo quando ainda existe perseguição política ? assegurou o secretário-executivo da MUD.
Torrealba disse que a oposição vai retomar as atividades na Assembleia Nacional (AN) e avançar no processo de julgamento do presidente Maduro ?como responsável pela crise política e econômica que assola o país?. Um eventual impeachment do presidente deveria ser ratificado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), atualmente controlado pelo Executivo. A estratégia opositora é apenas simbólica, mas a MUD pretende avançar neste sentido.
? Vamos convocar marchas e acompanhar o povo na luta por seus direitos ? contou Torrealba.
A anunciada marcha ao Palácio Miraflores, disse ele, está suspensa.
? Temos de atuar com precaução e deixar claro que queremos sair deste governo de forma democrática ? enfatizou o porta-voz opositor.
Torrealba, que participa das negociações mediadas pelo Vaticano, disse que ?do outro lado da mesa vemos uma inclinação a considerar soluções políticas. Mas temos de passar da retórica aos gestos?.
? O governo não pode perder esta oportunidade de diálogo. Se este trem for embora não vira outro e o que virá é violência ? concluiu.