Cotidiano

Pouco pesquisado, o sambalanço tem sua história repassada em livro

INFOCHPDPICT000063242309RIO ? No ano em que o samba completa seu centenário, uma de suas ramificações mais populares seguia ignorada pela grande bibliografia da música brasileira. ?Nem todas as mudanças ocorridas no samba, na passagem dos anos 50 para os 60 do século passado, podem ser classificadas como bossa nova?, defende o jornalista e pesquisador Tárik de Souza no prefácio de ?Sambalanço, a bossa que dança ? Um mosaico?, livro que ele lança nesta segunda-feira, às 19h, na Livraria Bossa Nova e Companhia, junto com a coletânea de entrevistas ?MPBsambas: histórias e memórias da canção brasileira? (ambos pela Editora Kuarup).

Trabalho iniciado há 15 anos por Tárik e que, no ano que vem, se desdobrará em documentário do diretor Fabiano Maciel, o livro é um ?mosaico? porque nele o autor teve que unir vários cacos de informação acerca do sambalanço, um movimento não normatizado e pouco discutido na imprensa em sua época. Na definição da ?História social do samba?, de Nei Lopes e Luiz Antonio Simas, ele é um ?estilo de samba surgido no Rio de Janeiro, a partir do ambiente de bailes e boates (…) eminentemente feito para dançar (…)? e caracterizado ?principalmente pela incorporação do órgão Hammond ao conjunto de instrumentos?.

? Quando pequeno, eu gostava muito de discos, mas não tinha dinheiro para comprá-los. Então, ia para as lojas para ficar olhando e ouvindo os LPs. Um dia, vi uma capa em que uma porta de boate se abria. E quando o disco tocou fiquei pensando: ?Que voz tem esse tal de Djalma Ferreira!? ? conta o jornalista. ? Depois descobri que Djalma era o organista, quem cantava era o Miltinho. Ele se tornou depois uma espécie de pré-Roberto Carlos. De 1959 a 1964, Miltinho ocupou todas as paradas de sucessos do Brasil. Ele, Elza Soares, Ed Lincoln, todos venderam muitos discos naqueles tempos, até mais do que os artistas da bossa nova.

INFOCHPDPICT000063241883Com um texto de apresentação do estilo, uma pequena discografia, entrevistas com alguns de seus artistas e verbetes sobre outros, ?Sambalanço? abre a cortina para nomes como o organista e Rei dos Bailes Ed Lincoln, o cantor Orlandivo (que também faz percussão com molho de chaves) e para algumas curiosidades acerca dessa música que se espalhou como um vírus pelas boates de Copacabana, como Arpège e Drink. Uma delas é a participação de Lafayette, organista da jovem guarda, hoje à frente do grupo Tremendões.

? Descobri que ele estreou em um disco que tinha ?Moço, toque um balanço?, um sambalanço de Roberto e Erasmo Carlos ? revela Tárik de Souza, lembrando que o sambalanço se consagrou a partir de pequenos selos fonográficos, como Musidisc e Equipe (que, para concorrer com Ed Lincoln, criou o grupo Catedráticos com o então jovem arranjador da bossa Eumir Deodato). ? Foi uma fase muito interessante do mercado fonográfico, em que as pequenas espantaram as grandes.

Som que foi ficando para trás, o sambalanço volta e meia é ressuscitado, conta Tárik. Seja em discos dos seus expoentes (como Orlandivo, que em 2005 lançou ?Sambaflex?), adeptos tardios (como Emílio Santiago, em ?Só danço samba?, de 2010) e de novos artistas como Valeria Sattamini (?Sambaflex?, 2003) e Clara Moreno (?Miss balanço?, 2010).