Saúde

Origem da covid-19: relatório aponta transmissão a humanos via animal intermediário

Hipótese praticamente descarta a tese de que a pandemia se originou em um laboratório

Vista do mercado atacadista de frutos do mar de Wuhan Huanan antes de seu fechamento em Hankou, cidade de Wuhan, provÌncia de Hubei, centro da China, 31 de dezembro de 2019.
Vista do mercado atacadista de frutos do mar de Wuhan Huanan antes de seu fechamento em Hankou, cidade de Wuhan, provÌncia de Hubei, centro da China, 31 de dezembro de 2019.

O esperado relatório sobre as origens da covid-19 elaborado por especialistas da OMS e chineses inclina-se, nesta segunda-feira (29), para a hipótese de uma transmissão do vírus aos seres humanos por meio de um animal intermediário infectado por um morcego e praticamente descarta a tese de que a pandemia se originou em um laboratório.

A publicação deste relatório conjunto de especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde) e chineses ocorre 15 meses após o surgimento dos primeiros casos em Wuhan, no centro da China, e depois que a pandemia já provocou ao menos 2,7 milhões de mortes em todo o mundo e devastou a economia planetária.

Neste momento, o número de infecções globais (mais de 126 milhões) continua aumentando devido a variantes mais contagiosas, que obrigam os países a tomarem medidas severas de restrição, como é o caso especialmente na Europa e na América Latina.

O relatório divulgado nesta segunda-feira não surpreende nem resolve o mistério da origem do vírus e destaca a necessidade de estudos adicionais para além da China.

Neste sentindo, o diretor geral da OMS afirmou segunda que todas as hipóteses levantadas no relatório merecem um estudo mais aprofundado, em uma primeira reação a este documento.

“Todas as hipóteses estão sobre a mesa e merecem estudos mais aprofundados e abrangentes”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus em Genebra durante uma coletiva de imprensa conjunta com o ministro alemão para a Cooperação, Gerd Müller.

A sua publicação suscitará, sem dúvida, críticas à OMS, acusada de suposta complacência para com as autoridades chinesas.

Mais estudos e muita paciência

Para os especialistas, a transmissão do vírus da covid-19 por um animal intermediário é uma hipótese “entre provável e muito provável”.

Especificamente, eles se inclinam à teoria até agora aceita de que o vírus foi provavelmente transmitido de um morcego para o Homem por meio de outro animal que ainda não foi identificado.

No entanto, a possibilidade de uma transmissão direta entre o animal inicial e o Homem ainda é considerada entre “possível e provável”.

O relatório conclui, como os especialistas já haviam previsto ao final de sua missão na China em fevereiro, que é “extremamente improvável” que pandemia de coronavírus tenha sido provocada por um acidente ou fuga de patógenos de um laboratório.

O governo do ex-presidente americano Donald Trump acusou o Instituto de Virologia de Wuhan, que pesquisa coronavírus muito perigosos, de ter deixado o vírus escapar, voluntária ou inadvertidamente.

Os especialistas afirmam que não estudaram a possibilidade de tal ato deliberado.

As análises deste grupo de especialistas mundiais no local onde eclodiu a pandemia eram consideradas cruciais para combater esta pandemia e outras no futuro.

Mas a missão teve muitos problemas para trabalhar devido à relutância das autoridades chinesas em receber esses especialistas mundiais.

Os especialistas apontam ainda que os estudos realizados no mercado Huanan de Wuhan e em outros mercados da cidade não serviram para encontrar “elementos que confirmassem a presença de animais infectados”.

“Devem acontecer investigações em áreas mais amplas e em um maior número de países”, conclui o relatório.

Por isso, a OMS pede paciência, porque as respostas vão demorar a chegar.

Mortalidade no México

Na maioria dos países latino-americanos, as restrições estão sendo reforçadas devido ao aumento de infecções e mortes.

No total, a região da América Latina e do Caribe registra mais de 767.000 mortes e mais de 24 milhões de infecções, segundo dados oficiais.

Um relatório do governo mexicano publicado no domingo afirma que o país registrou 294.287 mortes associadas à covid-19 até 13 de fevereiro, o que significa que se este dado for confirmado o número total de mortes já ultrapassaria 300.000.

Os números oficiais do governo citam por enquanto de 201.000 mortes.

Na Argentina, onde a situação epidemiológica volta a ser preocupante, o governo anunciou no domingo novas medidas para tentar impedir a transmissão da covid-19, como o retorno ao teletrabalho na administração pública.

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro ofereceu “petróleo por vacinas” contra a covid-19, em meio a uma nova onda da pandemia no país, sujeito a sanções financeiras dos Estados Unidos.

“A Venezuela tem barcos petroleiros, tem os clientes, para que comprem petróleo da gente e dedicaria uma parte da sua produção para garantir todas as vacinas que precisa (…) Estamos prontos e preparados, petróleo por vacinas, mas não vamos implorar a ninguém”, disse o presidente.

No Chile, o chefe de Estado, Sebastián Piñera, anunciou que solicitará o adiamento para maior da eleição constituinte, marcada para 11 de abril, “em meio ao preocupante aumento dos casos de covid-19”, que há quase uma semana registra 7.000 casos diários.

Do outro lado da moeda, nesta segunda-feira a Inglaterra recuperou um pouco da normalidade ao autorizar as pessoas a se encontrarem a céu aberto, em grupos de no máximo seis, e também permitindo a prática de alguns esportes ao ar livre.

Fonte: Agência AFP