São Paulo – Nos primeiros meses da pandemia do novo coronavírus, as gestantes não figuravam no chamado grupo de risco. Em pouco tempo que a doença se alastrou pelo Brasil esse conceito precisou der revisto. Hoje, das 160 mortes registradas no mundo de grávidas, 124 ocorreram no Brasil, o que corresponde a 77,5%. As informações são de um estudo publicado na International Journal of Gynecology and Obstetrics. O segundo colocado nesse trágico ranking são os Estados Unidos, com 16 óbitos.
“São 188 territórios afetados pelo coronavírus em todo o mundo e o Brasil tem mais mortes maternas do que a soma de todos esses países”, resumiu a obstetra Melania Amorim, professora da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e uma das autoras do estudo.
Para ela, falhas graves no atendimento das gestantes brasileiras explicam o número tão elevado.
O estudo, publicado no último dia 10, é assinado também por especialistas da Unesp, da UFSCAR, do IMIP e da UFSC. Chamado de “A tragédia da Covid-19 no Brasil”, o trabalho foi feito com base em dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Das 978 grávidas ou mulheres no pós-parto diagnosticadas com covid-19 entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho no País, 124 morreram – um número 3,4 vezes superior ao total de mortes maternas relacionadas ao novo coronavírus em todo o mundo no mesmo período.
Os números indicam também que a taxa de letalidade da doença entre as grávidas no Brasil é de 12,7%, ou seja, a mais alta do mundo. Para se ter ideia, nos Estados Unidos, no mesmo período, 8 mil gestantes foram diagnosticadas com o novo coronavírus. Desse total, 16 morreram, uma grande diferença.
“Quando os primeiros casos surgiram no Brasil, começamos a pensar se nossa população seria diferente, mais suscetível”, explicou Melania. “O que constatamos foi que houve algumas mortes com fatores de risco associados, como problemas cardiovasculares e obesidade, mas houve mortes de grávidas completamente saudáveis.”
Mundo já tem 17 milhões de infectados
Mais de 17,1 milhões de pessoas no mundo todo já contraíram o novo coronavírus. Dessas, ao menos 668.801 não sobreviveram. Os Estados Unidos seguem à frente em números absolutos, com 4,5 milhões de casos e 153 mil mortes. Em seguida está o Brasil, que alcançou ontem 2,6 milhões de infectados, e 91.263 óbitos.
Embora alguns países tenham desacelerado, no mundo a pandemia mantém o ritmo ascendente, sem indicar o chamado platô, que indicaria uma possível estabilização e, então, desaceleração.