Ex-diretor conversa com dono da JBS e qualifica os governadores do Paraná e de Santa Catarina como “coitadinhos”
Brasília – Se a primeira divulgação da gravação dos irmãos Batista já havia sacudido o Brasil, a segunda parece ser uma verdadeira bomba. No fim da tarde de ontem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin retirou o sigilo da gravação da JBS, que motivou a abertura do processo de revisão do acordo de colaboração de Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco e Assis e Silva, delatores ligados à JBS, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). A gravação tem cerca de quatro horas.
Em um dos trechos da longa conversa entre o ex-diretor de Relações Institucionais da JBS Ricardo Saud e Joesley Batista, um dos donos da empresa, Saud cita parceiros da empresa e lamenta ao interlocutor ter que “jogar esses amigos tudo no fogo”. Em seguida, cita os governadores do Paraná, Beto Richa (PSDB), e de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), qualificando-os como “coitadinhos” e dizendo que fez repasses em dinheiro a ambos.
“A questão é ter que jogar esses amigos tudo no fogo. Os governadores, coitadinhos… Beto Richa… Pegou tudo em dinheiro no [supermercado] Angeloni… Fui eu e aquele [inaudível] entregar pro [inaudível] Richa no Angeloni… [Raimundo] Colombo…”, diz Saud a Joesley durante a conversa, sem especificar em que momento teriam sido feitos os repasses.
Dinheiro vivo
Em delação premiada fechada em maio deste ano, Ricardo Saud relatou um pagamento de R$ 1 milhão em dinheiro vivo para Pepe Richa, irmão do governador e atual secretário de Estado de Infraestrutura e Logística. O ex-diretor qualificou o intermediário como “emissário de Richa”. A entrega do dinheiro teria ocorrido no carro do irmão do governador, na porta de um supermercado em Curitiba, e o valor destinado à campanha de 2014, quando Richa concorreu à reeleição.
Outro lado
O governador Beto Richa (PSDB) disse que a questão seria respondida pelo diretório do partido. Em nota, o PSDB informou que o governador “jamais fez captação de recursos para campanhas eleitorais” e que a campanha dele à reeleição em 2014 recebeu duas doações oficiais da JBS, uma de R$ 1 milhão e a outra de R$ 1 mil, ambas declaradas na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral.
Em entrevista ao “Diário Catarinense”, Raimundo Colombo negou o repasse ilegal de dinheiro e reafirmou seu posicionamento de quando foi divulgada a delação da JBS. Segundo o governador, a empresa fez doações ao diretório nacional de seu partido, o PSD, que foram repassadas ao diretório estadual e destinados legalmente à sua campanha em 2014.
Cármen Lúcia pede investigação imediata
A presidente do STF, Cármen Lúcia, informou ontem ter pedido "investigação imediata", com data para início e fim, de menções feitas pelos delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud a membros da Corte.
Na gravação entregue pela empresa semana passada como complemento à delação premiada, Joesley e Saud conversam sobre ministros do STF, segundo a PGR. No diálogo, ocorrido em março, eles falam sobre as negociações que faziam para fechar o acordo de colaboração.
“Agride-se, de maneira inédita na história do País, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes”, disse a ministra, em pronunciamento em vídeo divulgado pela Corte.
Cármen Lúcia pediu “prioridade e presteza” para uma apuração “clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado”.
A investigação sobre as falas, disse a ministra, tem como objetivo não deixar “qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes”.
"Não temos conhecimento de nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridades. O que nós falamos não é verdade, pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso", diz trecho da nota.