Política

EDITORIAL : “É como mergulhar na idade das trevas”

De repente, o Brasil se vê às voltas com fantasmas do passado, que jurava ter extinto. O sarampo já caminha a passos largos no País e a poliomielite volta a assombrar. Para a virologista da UFRJ e assessora do Comitê da Organização Mundial de Saúde para a pesquisa com o vírus da varíola, Clarissa Damaso, “é como mergulhar na idade das trevas”.

E não foi por falta de aviso. Nem por falta de instrumentos. O problema é a simples falta de imunização. O governo gasta bilhões em medicamentos que são desprezados por pais que aderiram ao movimento antivacina. Uma nova filosofia de vida que dispensa os produtos químicos e que agora começa a custar vidas. A primeira foi a de um bebê de sete meses, no fim de maio, vítima do sarampo.

Doença considerada erradicada no Brasil há dois anos, ao menos 472 casos já foram confirmados no País e, ao que tudo indica, vai continuar a crescer. Isso porque tem encontrado um contingente até então ignorado de crianças não imunizadas.

“Não existe doença do passado. Existe doença controlada com vacina. Vivemos cercados por micro-organismos causadores de doenças à espera de oportunidade. A baixa cobertura vacinal é essa chance. Se deixa de existir o que a ciência chama de imunidade de rebanho, a doença volta. Vacinar é preciso”, afirma a virologista, que acrescenta: “Jogamos anos de trabalho no lixo”.

Os motivos de um pai não vacinar o filho, embora tenha a vacina à disposição, são particulares, sim, só que agora essa liberdade põe em risco toda uma nação. Ontem, o Ministério Público determinou que mais de 300 municípios brasileiros corram com a vacinação contra a pólio, porque identificou que ao menos metade das crianças não está imunizada. Quem não lembra dos danos que a paralisia infantil pode causar?