Policial

Argentina fecha fronteira e narcotráfico uruguaio “migra” para o Paraná

Rota viciada do oeste se torna caminho alternativo para o tráfico de drogas

Foz do Iguaçu – Apesar da crise econômica vivida pela Argentina, uma das ações do Governo Mauricio Macri foi não deixar a segurança sucumbir em regiões de fronteira, sobretudo com o Paraguai. Um exemplo disso são os reforços constantes nos postos de fiscalização do lado de lá em um caminho de mão dupla, o que praticamente acabou com o tráfico de armas da Argentina para o Paraguai.

Os fuzis fal, que vinham sendo desviados das Forças Armadas argentinas, estão desaparecendo no mercado clandestino no Paraguai. Somado a isso, a intensa rota do tráfico de drogas rumo ao mercado uruguaio, que antes era transportado do Paraguai pela Argentina encurtando os caminhos, precisou se reinventar.

A fiscalização assídua fez com que os traficantes escolhessem mais uma vez a rota bem traçada e já viciada no oeste e no sudoeste do Paraná para levar os carregamentos para o Uruguai.

Relatórios de inteligência feitos por forças de segurança na fronteira têm alertado o Ministério da Justiça e mais recentemente a pasta extraordinária da Segurança Pública sobre esse transporte. Os carregamentos saem das regiões de Cidade do Leste, Salto Del Guairá e Pedro Juan Caballero para abastecer todo o mercado uruguaio.

Em Misiones, região argentina na fronteira com o Brasil, considerada a principal porta de acesso para o narcotráfico, existe – e não é de hoje – uma política de repressão com o deslocamento de tropas federais para a fronteira com o Paraguai e em todo o trecho de 80 quilômetros na fronteira com o Brasil, entre Santa Catarina e o Paraná.

Somado a isso existe ainda a guarda costeira argentina, além de uma base que vem sendo construída nessa mesma região para mais 200 policiais que vão reforçar nos próximos meses o patrulhamento no Rio Uruguai.

Somando todo o efetivo argentino, são pelo menos 600 agentes cuidando de perto da fronteira e inibindo a ação de contrabandistas e de traficantes.

No Brasil, esse número não passa de 60 agentes, isso porque é possível encontrar um posto da Polícia Federal em Dionísio Cerqueira (SC), um em São Borja (RS) e um posto com apenas um policial por dia em Mauá e em Posto Xavier, nesses dois últimos apenas voltados para o controle da migração. “De um lado existem um efetivo elevado e um quartel sendo construído para mais 200 policiais graças ao governo argentino que identificou essa rota entrada de drogas. Então eles construíram uma barreira policial. Do outro lado, no Brasil, fecham-se postos como ocorreu na região sudoeste”, afirma um agente da segurança pública nacional.

Na delegacia de Barracão, por exemplo, existem hoje no máximo 30 agentes em atividade, número similar ao existente em São Borja.

Brasil continua de braços cruzados

Situações como está vêm ao encontro à abordagem feita pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que esteve na região oeste do Paraná há quase dois meses. Jungmann reconheceu a vulnerabilidade das fronteiras, da existência de uma rota viciada para o transporte de drogas, armas e munições e da necessidade de reforço no efetivo e de ações emergenciais para conter a escalada da criminalidade fomentada com drogas e armas trazidas do país vizinho.

Apesar das demandas conhecidas, nenhuma ação inovadora foi tirada do papel, nem mesmo a promessa de rever as condições para retomar os operações e monitoramentos com os auxílios do Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) nas fronteiras. Eles seguem encaixotados e guardados no aeroporto de São Miguel do Iguaçu há mais de dois anos. “Enquanto isso, a gente investiga, tenta frear a criminalidade. É certo que tudo aquilo que é pego é um prejuízo para os criminosos, mas eles não deixam de transportar porque ainda é um mercado muito rentável e com pouquíssima fiscalização”, denuncia outro agente de fronteira.