Cotidiano

Violência leva escolas de Niterói a investir em segurança particular

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NITERÓI – O início do ano letivo, no mês passado, trouxe de volta uma preocupação: o risco de assaltos a que estão expostos alunos e seus próprios pais, que circulam diariamente no entorno das escolas. A apreensão tem razão de ser: no último dia 11, quatro homens armados roubaram o carro de uma mãe na porta do Colégio Paulo Freire, no Engenho do Mato. Foi o segundo veículo levado dali por criminosos em menos de um mês. Dados do Instituto de Segurança Pública mostram que o número de roubos a transeuntes cresceu 10,6% se comparados janeiro (período de férias) com fevereiro (reinício das aulas). Saltou de 273 para 302. A estatística não discrimina, no entanto, se o crime foi contra estudantes e suas famílias. A Comissão de Segurança da Câmara anunciou que enviará uma indicação legislativa à prefeitura pedindo que o programa Patrulha Escolar ? que atua nas unidades municipais ? incorpore também as estaduais e as particulares. Outra medida será a reivindicação, ao 12º BPM (Niterói), de um policiamento mais direcionado às escolas.

Para tentar prevenir a ação de bandidos, colégios investem em segurança. Salesiano, La Salle Abel e São Vicente de Paulo põem agentes desarmados para patrulhar o seu entorno. A medida é para inibir a ação de bandidos, mas todos os responsáveis pelo serviço garantem que, em caso de violência, a orientação é não reagir.

? Isso pode ser perigoso para todos ? enfatiza Bené Narciso, chefe de segurança do Abel. ? Ficamos atentos à movimentação para antevermos qualquer situação. Chamamos a atenção de alunos que saem da escola distraídos, mexendo no celular… É um trabalho de orientação e observação.

PATRULHAMENTO NO ENTORNO DAS ESCOLAS

No Abel, a segurança dos alunos já preocupava a associação de pais e mestres (Apamaia) há 25 anos, quando a própria entidade decidiu contratar o serviço. Depois, a direção assumiu os custos. Hoje, eles rondam o quarteirão da escola e algumas ruas de Icaraí e Jardim Icaraí ? áreas também vigiadas pelos homens que fazem a segurança no entorno do São Vicente de Paulo.

INFOCHPDPICT000052447768A profissional de marketing Luana Medeiros é uma das que tiveram a rotina alterada devido à violência. A filha dela de 5 anos é aluna do Paulo Freire, e a avó da criança, que costumava buscá-la na saída, teve o carro furtado, em frente ao acesso principal da escola, na Rua 18 (esquina com Avenida Irene Lopes Sodré), há cerca de um mês. Depois disso, ela optou por contratar um serviço de van.

? Estou apavorada. Em menos de um mês foram dois casos na frente da escola. Com a outra mãe, (os bandidos) colocaram a arma na cabeça dela ? conta Luana.

O assessor da direção do Colégio Paulo Freire, Luciano Pacheco, enfatiza que a escola conta com segurança privada e circuito de câmeras. Ele avalia que houve desatenção nos casos em que os bandidos levaram os carros dos responsáveis:

? No caso do furto, foi imprudência. A segunda ocorrência não foi na porta da escola. A mãe parou mais lá na frente. Ela não estava na visão das câmeras nem da segurança.

Depois dos episódios, Pacheco diz que uma viatura da polícia monitora os horários de entrada e saída de alunos.

Para o especialista em segurança pública Paulo Storani, o grande fluxo de pessoas e de alunos com aparelhos eletrônicos são elementos que atraem os criminosos:

? No caso de Niterói, são grandes instituição privadas frequentadas por pessoas de alto poder aquisitivo. São crianças e jovens que têm celular, tablet e computadores de última geração. Quando os pais vão buscar os filhos, só têm o foco na saída deles e ficam desatentos. Se está havendo o delito é porque há oportunidade.

REFORÇO NAS RONDAS DA POLÍCIA MILITAR

O presidente da Comissão de Segurança da Câmara Municipal, vereador Renato Cariello (PDT), diz que o problema da segurança próximo às escolas é assunto recorrente entre os parlamentares:

? Farei um pedido formal ao 12º BPM para que realize um policiamento nessas áreas nos horários de maior movimento.

De acordo com o coronel Fernando Salema, comandante do 12º BPM, o trabalho da polícia é feito sobre a mancha criminal. Ele acredita que haja subnotificação dos casos:

? Tem gente que tem o celular roubado e não registra. Se algum diretor ou responsável por essas escolas nos procurar e apresentar a situação, podemos fazer um policiamento elaborado, como fazemos com instituições financeiras, que são mais visadas.

Em nota, a prefeitura explica que o Patrulha Escolar, da Guarda Municipal, ?atua com rondas e roteiros predefinidos e contempla apenas as instituições educacionais da rede municipal.? O programa conta com seis agentes, que fazem uso apenas de armas não letais, em três viaturas, ?executando um roteiro diário de 74 escolas?.

A insegurança nas escolas preocupa responsáveis e professoras há algum tempo. Em 2014, uma passeata pedindo mais segurança mobilizou a comunidade escolar de Niterói. A manifestação foi convocada depois da ocorrência de quatro assaltos, em menos de duas horas, nas imediações do colégio Gay Lussac, em São Francisco. Na época, o comandante do 12º BPM chegou a visitar escola para tratar com a direção o problema da violência.