Cotidiano

Tristan Lebleu, jornalista: 'A tecnologia ajuda a fazer com que todos tenham voz'

201608192223328403.jpg“Tenho 23 anos e sou metade inglês e metade francês. Formado em Jornalismo,
nasci e ainda vivo em Paris. Percebi que as start-ups não eram só uma moda, e
sim uma revolução, e por isso quis fazer parte disso. Vim ao Rio com uma equipe
de quatro pessoas para ver como as start-ups funcionam aqui.”

Conte algo que não sei.

Uma coisa que as pessoas não sabem
é que a França é um país de tecnologia. As pessoas, às vezes, têm uma imagem
negativa. Pensam que a França é somente greve, vinho tinto, queijo e terrorismo.
É preciso fazer com que elas tenham uma imagem mais moderna do país.

E o que a França tem feito para mudar essa imagem?

Estamos fazendo novas leis e
tentando atrair talentos estrangeiros. Por isso, estamos no Rio. Havia a ideia
de que os franceses não gostavam de trabalhar, só de tirar férias. Esta
percepção está mudando. O jovem francês não quer mais trabalhar nas grandes
empresas, e sim abrir o próprio negócio. Quer ser mais livre, ser o próprio
chefe. E o desemprego alto ajudou; as pessoas foram levadas a criar a própria
ocupação.

Por que veio ao Brasil?

Viemos pensando na Olimpíada de
2024. Os Jogos são muito bons para as grandes empresas. Mas, se a França ganhar
a candidatura para 2024, queremos beneficiar as pequenas. Para que os Jogos
sejam realmente inovadores, precisamos que os empreendedores participem. Viemos
ver como o evento funciona, quais as boas e as más práticas. Também estamos
procurando empreendedores brasileiros que possam trabalhar neste projeto.

De acordo com o que você viu aqui, o que diferencia o empreendedor
brasileiro?

Reparei que aqui os fundadores de
start-ups são um pouco mais velhos e já têm experiência prévia com gestão. Outro
ponto comum é que se inspiram em outras start-ups: veem algo que funciona e
fazem uma cópia do que já existe, mas tentando melhorar. Uma coisa legal é que
muitas start-ups brasileiras querem responder a um problema com a tecnologia.
Como há problemas com transporte, segurança e educação, tentam solucionar isso
de alguma forma. Os brasileiros, como os franceses, adoram tecnologia, todo
mundo tem um celular, mesmo quem não tem muito dinheiro.

Uma percepção comum é de que somos criativos, mas encontramos
entraves na hora de levar esse espírito inovador aos negócios…

Todo mundo enfrenta esse problema.
É preciso sonhar, ser criativo, mas é preciso ter formação, acesso às técnicas
de gestão, saber concretizar as ideias. É o que tentamos fornecer numa
aceleradora de start-ups.

A crise não atrapalha as perspectivas aqui?

Fala-se muito na Europa sobre as
crises política e econômica do Brasil, mas também é um momento de oportunidade.
Quando uma start-up supera uma crise como esta significa que ela é muito forte.
Outra coisa importante é que as start-ups podem ajudar na política, criando
ferramentas para a democracia participativa. A tecnologia ajuda a fazer com que
todos tenham voz.

As grandes empresas,
agora, desejam ter o ambiente das start-ups, para atrair jovens. Isso é
realmente possível?

Sim, e querem não só o ambiente,
mas a rapidez, a flexibilidade. Veem casos como a Uber, que nasceu de uma
start-up e rapidamente mudou as regras do mercado. É preciso que aprendam a
inovar, e o que ensinamos é a metodologia, a forma de trabalhar das start-ups.
Nas empresas grandes, uma decisão precisa do aval de um chefe, e depois de outro
chefe e de mais outro. Nas start-ups não há essa hierarquia. O modelo mudou.
Assim como as start-ups, as pessoas vão trabalhar em equipes menores, em que
todos se conhecem.