Cotidiano

Trecho cortado é orçado em 30% do valor da obra em execução

Ex-governador Beto Richa anunciou nova pista, mas assinou trecho menor; ele garantiu que Estado bancaria investimento

Cascavel – A promessa feita pelo ex-governador Beto Richa ainda em setembro de 2017 de que o Estado assumiria a duplicação de 6,4 quilômetros restantes da BR-277, entre o posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) até o trevo de acesso ao Distrito de São João do Oeste, em Cascavel, está travada na revisão do projeto que foi enviado para a concessionária que administra o trecho, a Ecocataratas. Esse trecho foi cortado da promessa feita pelo próprio Beto de que seriam duplicados 9 quilômetros mas autorizados apenas 3,2 quilômetros.

Segundo a Seil (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística), o documento está desde o fim de 2017 com a concessionária. O prazo para a conclusão da revisão era o fim de março, mas até agora o documento não foi devolvido para o governo do Estado iniciar a tramitação burocrática e a licitação. A informação é de que a empresa pediu prorrogação desse prazo.

Em março, quando a primeira data estava prestes a vencer, a Ecocataratas disse à reportagem do Jornal O Paraná que “recebeu a solicitação para o
desmembramento dos projetos de duplicação de Cascavel e Guarapuava, os
quais estão em fase de execução para posterior entrega ao DER/PR”.

Questionada sobre a demora na liberação, na época a concessionária não se manifestou.

Entre os pontos que chamam a atenção é que o projeto original que prevê os 6,4 quilômetros de pista mais as chamadas obras de arte estaria orçado num primeiro levantamento em R$ 40 milhões. Ocorre que a obra hoje em execução, de 3,2 quilômetros entre o Trevo Cataratas até o posto da PRF, foram divulgadas em R$ 60 milhões e são realizadas pela Ecocataratas sem o chamado degrau tarifário, com recursos que a empresa tinha em caixa.

Grosso modo, cada quilômetro que está sendo duplicado hoje cuja previsão de entrega é para outubro que vem custa R$ 18,750 milhões. Na obra a ser iniciada e que será custeada pelo Estado cada quilômetro custaria menos de R$ 7 milhões, ou seja, quase um terço do valor executado e anunciado pela Ecocataratas.

Novo prazo

A concessionária respondeu em nota. Informou que, a “respeito da revisão dos projetos de duplicação da BR-277, em Cascavel, a Ecocataratas comunica que o prazo estabelecido para a entrega dos desmembramentos dos projetos de duplicação da BR-277 em Cascavel e Guarapuava, ao Poder Concedente/DER- PR é de 180 dias”, mas não precisou quando esse período iniciou ou terminaria. “A Concessionária ressalta ainda que, não tem conhecimento dos valores mencionados pelo veículo de imprensa para execução da obra”, mas não repassou outros números.

Conta que não fecha

A promessa inicial e que chegou a ser anunciada pelo ex-governador Beto Richa em várias oportunidades era de que a obra em execução contemplaria 9 quilômetros duplicados da BR-277, atendendo a uma antiga demanda da região de mais uma pista de acesso ao Parque Tecnológico Coopavel, onde ocorre todos os anos o Show Rural, sempre com grande tumulto no tráfego até o local.

Inclusive, na ocasião da assinatura da ordem de serviço, em novo ato público, toda a imprensa divulgou o trecho, sem que ninguém do governo ou da concessionária corrigisse a informação. Isso porque a Ecocataratas foi autorizada na época a duplicar apenas 3,2 quilômetros.

A justificativa era de que a concessionária não poderia aplicar degrau tarifário, ou seja, aumento de pedágio naquele trecho em decorrência da duplicação.

Ano passado, quando “o corte” veio à tona, a informação era que havia mais de R$ 80 milhões disponíveis para Cascavel mas que parte do recurso fora remanejada para outro trecho em duplicação, na cidade de Guarapuava, por coincidência, de 6 quilômetros.

Diante da ampla repercussão negativa sobre a não duplicação do trecho total de 9,4 quilômetros, especialmente pela omissão à imprensa, e após cobrança da sociedade, o ex-governador assumiu em visita a Cascavel no fim de setembro do ano passado que o próprio Estado custearia a obra de duplicação desse trecho, projeto que até hoje está nas mãos da Ecocataratas e sem previsão de início da nova pista.

Tanto a demora na liberação de um projeto que já deveria estar pronto, já que até um ano antes havia a previsão de duplicar os 9,4 quilômetros, quanto a diferença de valores entre uma obra e outra, chamam a atenção para a possibilidade de a duplicação desses 6 quilômetros nunca terem sido cogitadas de fato e serviu apenas para promoção do ex-governador.