Cotidiano

Stuart Hardy, consultor: ?Não há espaço para a arte sem valor?

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?Tenho 58 anos e sou avô. Nasci no Reino Unido e ainda moro lá, em Manchester. Sou formado em Belas-Artes, mas sempre quis ser pago por meu hobby. Fui líder de expedição e guia de montanhas. Mas tive que conseguir um emprego de verdade: renomeei minhas atividades para ?formação de equipes e treinamento de liderança?.?

Conte algo que não sei.

A liderança sempre passou por um período contínuo de evolução, mas, no momento, há uma revolução. Isso é predominantemente causado por uma mudança na relação que as empresas têm com consumidores e com o valor. Durante a História, as companhias faziam produtos e tentavam encontrar as pessoas a quem vendê-los. Agora, porque os consumidores e a tecnologia estão evoluindo, a maioria das organizações descobre ecossistemas de valor que existem na sociedade e transforma esse conhecimento em serviços e produtos. Então, os líderes agora trabalham mais de fora para dentro ? descobrem tendências na sociedade e fazem produtos baseados nisso.

Como o seu trabalho como líder de expedições o capacitou para dar aulas sobre liderança?

Uma das coisas interessantes sobre o ambiente aberto é o quão nivelador ele é. Ele tende a remover a hierarquia quando pessoas estão sobre pressão. Frequentemente, percebi, quando trabalhei com gestores, que funcionários mais ?juniores? se sobressaíam e os mais seniores não iam tão bem. E hoje, no mundo dos negócios, vejo a mesma coisa: os líderes genuinamente bons acabam se destacando.

O que um líder precisa fazer de forma diferente quando trabalha com pessoas criativas?

Os criativos geralmente gostam de tensão, de um pouco de caos, de prazos, de iniciativa e de risco. Mas muitas dessas preferências, infelizmente, são incompatíveis com o mundo de negócios atual. Então, quando se trabalha com pessoas criativas, é preciso encontrar um balanço entre possibilitar os criativos a ter essa tensão e deixá-los conscientes de que há um negócio para gerir.

É frequente que artistas queriam apenas fazer arte, sem se preocupar com negócios ou lucro?

Sim. Eles dizem: ?Não toque no meu bebê, isso é o que eu faço, eu sou um artista.? Mas, infelizmente, na maioria dos casos, são artistas trabalhando no mundo de negócios. Minha ambição quando eu cursei Belas-artes foi ser artista, mas rapidamente percebi que não poderia fazer esculturas e ser pago por elas, precisaria de algo a mais. E parte do papel dos líderes é ajudar os criativos a entenderem como ainda podem manter essa ambição, mas canalizá-la para algo que gere valor.

Mas ainda existe espaço para a arte pela arte?

Acho que não há espaço para arte sem valor. Para alguns, valor é dinheiro, para outros, pode ser apenas ver ou compartilhar ou interagir de alguma outra forma. Eu, que cresci com a arte, tenho dificuldade para entender a ideia de arte sem valor. Inerente na noção de arte, acho, está algum tipo de valor. A maioria dos artistas teria problemas se olhasse para o seu trabalho e achasse uma porcaria, e se outras pessoas olhassem e achassem uma porcaria.

E a arte for boa, mas sem um viés comercial?

Ela certamente tem valor, porque as pessoas a valorizam pela apreciação. A pergunta, acho, é se a sociedade deve dar fundos para esses artistas, se o enriquecimento que essa arte nos traz é suficiente para justificar o financiamento público. E acho que, até certo ponto, a maioria das pessoas diria que sim. Por isso nós temos esquemas apoiados pelo governo para arte, cultura etc. Então, acho que há bons motivos para se ter arte boa disponível para as pessoas.