Cotidiano

Senadores se confrontam no julgamento, mas em intervalo fazem piadas entre si

2016 935205160-201608291946599628_RTS.jpg_20160829 (2).jpgBRASÍLIA ? Se no plenário, sob os holofotes, senadores e integrantes dos governos Michel Temer e Dilma Rousseff ficam com o sangue fervendo e quase se atracam, nos bastidores o clima é bem diferente. Num dos intervalos da sessão desta segunda-feira, uma cena improvável: em rodinha ao lado da Mesa Diretora, o acusador, senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ré Dilma Rousseff, seu advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, e o presidente da sessão, ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, conversando e rindo animadamente, como se fossem grandes amigos.

? Presidente, eu desejo paz e tranquilidade para a senhora e sua família neste processo ? abordou Aécio, depois de cumprimentar Dilma.

Testemunhando a cena descontraída, Lewandowski não perdeu a brincadeira.

? Eu tinha ouvido que, na política, até as inimizades são criadas. Mas, como sou do Judiciário, eu não sei ? disse o ministro, levando Dilma, Aécio e Cardozo a caírem na gargalhada.

? Não é que seja inimizade presidente. O que temos são projetos políticos diferentes ? respondeu, diplomaticamente, Aécio.

No cafezinho ao lado do plenário, em reuniões para fechamento de acordos de votação, ou em jantares regados a vinho, o clima é de piadas, brincadeiras e camaradagem. Nesta segunda-feira, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RO), Nelson Barbosa ? ambos ex-ministros do Planejamento, de Temer e Dilma, respectivamente ? e o ex-deputado e ex-líder de Lula, Professor Luizinho, dividiam xícaras de chá e café e entabulavam uma conversa amena.

? Sou amigo do Nelson há muito tempo. Somos dois técnicos que tem boa convivência ? ressaltou Jucá.

Luizinho emendou:

? Fui líder do presidente Lula e me relacionava com todo mundo. Podemos ter uma relação fraterna independentemente das nossas divergências profundas neste processo de impeachment.

?AQUI É UMA CASA DE AMIGOS?

Na semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu as estribeiras, chamou o julgamento do impeachment de ?hospício? e teve um bate-boca pesadíssimo com a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Na mesma noite, o presidente do Senado e o petista secaram algumas garrafas de vinho em um jantar onde selaram a paz.

? Aqui no Senado as pessoas se xingam e se agridem de forma mais civilizada ? brincou Renan.

O líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), fez um relato de como a boa relação entre adversários políticos pode ser mal entendida pelos eleitores. Ele contou que, depois do almoço, encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff, que voltava para o plenário. Aliados até pouco tempo, Eunício disse que a presidente o chamou e os dois se abraçaram e trocaram um beijo. O encontro foi devidamente registrado em foto, disseminada pela internet.

? Logo depois já recebi mensagem de gente perguntando se eu tinha virado o voto. Na minha cidade, Lavras, tem 16 blogs: muitos trataram disso. Um poeta local chegou a fazer um repente ? contou o peemedebista.

Dilma e o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), também foram flagrados trocando sorrisos no plenário.

? Ela sorriu para mim, e como sou um cavalheiro, sorri de volta ? disse Cássio Cunha Lima.

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) diz que os embates podem ser duros em plenário, mas até pelo número reduzido de senadores é muito difícil manter o clima de beligerância no tratamento.

? Aqui é uma casa de amigos, quase uma sala de aula: não dá para arranjar inimigos. Somos adversários em causas ? finalizou cordialmente a senadora.