Cotidiano

Sébastien Onomo, cineasta e produtor: 'É mais fácil promover diversidade fazendo parte dela'

201603141342521640.jpg“Fui um jovem da periferia de Paris. Não consegui seguir a carreira de atleta que tanto desejava, mas me achei no cinema. Tenho 29 anos, nasci em Sèvres e estudei Letras na Sorbonne Nouvelle. Lá, criei a associação Ensemble Pour Un Autre Regard (Juntos por um Olhar Diferente) para produzir filmes de amigos.”

Conte algo que não sei.

A primeira coisa é que sempre achei que minha mulher seria do Brasil, mas não foi o caso. A segunda é que o longa-metragem “Heart of darkness” será a primeira animação franco-brasileira lançada nos cinemas.

Como a parte brasileira responsável pela produção irá contribuir para o filme?

A animação é uma adaptação do romance homônimo de Joseph Conrad, que inspirou “Apocalypse now”, de Francis Ford Coppola. O objetivo é contribuirmos com a expertise da França em fazer animação, ao mesmo tempo preservando o DNA brasileiro.

A animação ainda é um gênero pouco valorizado no Brasil. O que podemos aprender com a França?

Os dois países podem aprender um com o outro. O Brasil, por exemplo, investe em histórias originais, ao contrário de nós, que produzimos muitos roteiros adaptados. Por outro lado, vocês podem se espelhar na nossa formação de talentos. Temos uma longa tradição artística, com pessoas que desenham há séculos. Esse conhecimento foi desenvolvido graças a escolas de animação de excelente qualidade.

O que a animação tem que outros formatos e gêneros não oferecem para contar uma história?

Uma das particularidades da animação é a sua capacidade de apagar barreiras físicas. Como se trata de um imaginário visual único, é mais fácil sensibilizar o público de diferentes países e culturas. Já documentários e filmes com atores de carne e osso possuem características e limitações muito específicas.

Qual a importância de “um olhar diferente”, expressão presente no nome da associação que você criou?

O que eu quero mostrar é que os jovens de minorias étnicas na França também têm capacidade e talento para produzir filmes e programas de qualidade, com interesse e valores universais. Produzimos histórias mostrando que médicos podem ser negros, árabes podem ser advogados e asiáticos podem ser presidentes da República.

A última edição do Oscar foi marcada pela polêmica, com a crítica à falta de diversidade no cinema. O que achou?

Os Estados Unidos têm uma história diferente da nossa, mas é óbvio que muitos países não produzem filmes que reflitam a diversidade de suas populações.

Houve quem argumentasse que os atores negros não foram indicados ao Oscar porque nenhum atuou bem o suficiente para o prêmio.

Se isso for verdade, se houver como comprovar, então é muito grave. As manifestações de boicote contra a Academia foram válidas, pois mostram como há pessoas extremamente incomodadas com a injustiça.

Como incentivar e aumentar a diversidade no cinema, tanto atrás quanto à frente das câmeras?

O mais importante é que os executivos que contratam artistas reflitam, eles próprios, a diversidade de seu país. É mais fácil promover diversidade quando se faz parte da diversidade. Existem diretores, produtores, roteiristas e atores negros, mas, na última etapa dessa estrutura, há os donos da indústria que precisam ter a sensibilidade para mudar o panorama do setor.