Cotidiano

Rio recebe exposição com mais de cem obras de Picasso

RIO ? Enquanto o leitor lê este texto, milhares de pessoas visitam alguma exposição de Picasso pelo mundo. Só neste ano, contando as que foram encerradas e as que estão por inaugurar, são pelo menos 23 mostras dedicadas ao artista. É uma rotina que se repete continuamente, e à qual o Rio se conecta a partir desta terça-feira, às 18h30m, quando a Caixa Cultural abre ao público a exposição ?Picasso: mão erudita, olho selvagem? (durante a greve dos bancários, a instituição terá horário reduzido em alguns dias ? veja serviço no fim do texto).

Formada por 138 obras do Musée National Picasso-Paris, a mostra chega aqui após ter passado pelo Instituto Tomie Ohtake (coorganizador da exposição), em São Paulo, onde foi vista por 390 mil pessoas entre maio e agosto.

? A fama de Picasso não conhece limites, tampouco fronteiras ? diz ao GLOBO, por e-mail, Erol Ok, diretor geral do Musée National Picasso-Paris. ? A diversidade e a riqueza de sua obra, que nunca deixou de ser inovadora, fazem dele, sem dúvida, a figura típica do artista total, do criador por excelência. Esta criatividade excepcional se combina, no seu caso, a uma personalidade fora do comum; sua vida romanesca, seus compromissos como artista e como cidadão, a força de seu caráter: tudo isso contribui para fazer dele um ser extraordinariamente presente no seu século. Um Picasso mais ou menos perto de você

De fato, Picasso, nascido em Málaga, na Espanha, em 1881, e morto em Mougins, na França, em 1973, foi uma das figuras mais emblemáticas do século XX. Começou a pintar muito jovem, ainda nos anos 1890. Na exposição, que traça um percurso cronológico-temático do artista, é possível ver um de seus primeiros óleos relevantes, como escreve no catálogo da mostra a curadora Emilia Philippot, também curadora do Musée National Picasso-Paris. É ?O homem de boné? (1895), pintado quando ele tinha apenas 14 anos. A obra está na seção ?O primeiro Picasso. Formação e influências?. Depois dela seguem-se outros nove núcleos, como ?Picasso cubista? ou ?Picasso na resistência?.

Neles, a trajetória do artista vai se delineando com obras de peso, como ?Homem com violão? (1911), belo exemplar do período cubista, em que desconstruiu a perspectiva única na pintura enquanto cresciam as hostilidades na Europa que levariam à Primeira Guerra. A obra, inclusive, foi rejeitada à época por parte da crítica.

Em ?Picasso clássico? destaca-se a série de desenhos de cenários e figurinos para os Ballets Russes de Sergei Diaghilev, símbolo da vanguarda cultural no continente. ?Picasso surrealista?, que inclui a tela ?Figuras à beira-mar? (1931), mostra como o artista interpretou de maneira própria o movimento.

?Guernica? (1937), célebre tela que registrou os horrores da Guerra Civil Espanhola, não estará na mostra (hoje no acervo do museu Reina Sofía, ela já veio ao Brasil em 1953, na II Bienal de Arte), mas será lembrada na seção ?Picasso engajado?, a partir de fotos em que Dora Maar, quarta das nove mulheres do artista, registrou a produção da tela de 3,50m x 7,85m.

Mulheres correndo

É a primeira vez que o Rio recebe tal conjunto de telas, desenhos, guaches, esculturas, cerâmicas e fotografias do artista.

? Contribuir para a primeira grande exposição de Picasso numa cidade como o Rio é uma experiência emocionante. Nada substitui o primeiro contato direto do público com suas obras ? diz o diretor do museu parisiense.

A curiosidade pelo mundo e uma capacidade incrível de trabalho resultaram numa produção extensa do artista. O catálogo raisonné publicado por Christian Zervos em sua editora Cahiers d?Art, de 1932 a 1978, reproduziu, em 33 volumes, mais de 16 mil pinturas e desenhos. Mas após sua morte constatou-se que havia deixado bem mais.

? Picasso era incrivelmente produtivo e deixou uma herança considerável, que pode ser contabilizada em dezenas de milhares de obras, de todos os tipos, em todos os suportes ? diz Ok. ? No âmbito desse imenso legado, a coleção do Musée National Picasso-Paris é a mais importante do mundo, com mais de cinco mil obras.

É desse acervo, constituído a partir de doações da família a título de imposto sobre herança, que vêm as peças na Caixa Cultural, das quais 109 são trabalhos do artista. Presidente do Instituto Tomie Ohtake, de onde partiu a iniciativa da exposição, Ricardo Ohtake se surpreendeu, ao visitar, no ano passado, o museu parisiense, com a qualidade das obras selecionadas pela curadora, grande parte delas da coleção privada do pintor (também doada pela família, atendendo a seu desejo).

? Quando estava pintando e achava que havia feito algo interessante, ele guardava. Acabou construindo um museu particular, com obras de alta qualidade. Na exposição há peças que constam de publicações, de grande valor dentro de sua trajetória ? Ohtake.

O Beijo

? A notoriedade e a grande variedade de sua arte são os trunfos formidáveis para popularizar a arte e a cultura: ouvir falar de Picasso é ter rapidamente desejo de descobrir suas obras de perto, de se confrontar com seu gênio criativo ? observa Ok.

?Picasso: mão erudita, olho selvagem?

Onde: Caixa Cultural ? Avenida Almirante Barroso 25, Centro (3980-3815).

Quando: Inaugura nesta terça-feira (13/9), às 18h30m. Ter. a dom., das 10h às 21h (durante a greve dos bancários, o horário, de seg. a sex., é de 18h30m às 21h). Até 20/11.

Quanto: Grátis.

Classificação: Livre.