Cotidiano

Relatora diz que existiam ?interesses mil? em esvaziar Iphan

BRASÍLIA – Relatora da medida provisória que recriou o Ministério da Cultura, em maio, no início do governo Michel Temer, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) relatou ao GLOBO na manhã desta segunda-feira que decidiu excluir do texto a criação Secretaria Nacional de Patrimônio Histórico, prevista no texto e que, para ela, tiraria poderes do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável por conceder licenças para empreendimentos, como o de interesse do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, na Bahia. A deputada afirmou que a secretaria tiraria importância do Iphan e ligou para o presidente da República, Michel Temer, avisando que o faria.

? Mergulhei para entender a importância dessa secretaria. E vi que a importância dela era tirar a importância do Iphan. Nessa situação, liguei para o presidente (Temer) e disse que estava usando do meu discernimento e estava tirando aquela secretaria. E coloquei no lugar a Secretaria Nacional da Pessoa Idosa. Essa sim, o povo brasileiro tinha necessidades ? conta Gabrilli.

? Enfim, teve muita gente que não gostou ? disse a deputada, sem citar nomes.

Gabrilli afirmou que conversou com muitos técnicos do Iphan, com o pessoal da cultura e com o próprio então ministro Marcelo Calero que, segundo ele, foi o tempo inteiro “muito cuidadoso”.

? Ele (Calero) sempre foi muito cuidadoso. Era uma situação delicada para ele. Era um ministro dentro do governo e iria falar mal de uma medida provisória do próprio governo?! Nunca fez isso. Foi muito cordial ? afirmou a deputada, que deu outros detalhes.

? Fui conversando com mutias pessoas e cada vez mais que me aprofundava não via nenhuma razão para a razão daquela órgão (a secretaria). Simplesmente tirei. Tenho certeza que evitei um mau maior.

A deputada disse que nas conversas e diálogos que foi estabelecendo sobre a medida provisória tomou ciência que havia “interesses mil” na criação da secretaria.

? Já ouvia de vários lugares que tinham interesses mil na criação da secretaria. E isso vai parar na minha mão para eu relatar?! Não vai prosperar! ? afirmou a parlamentar, lembrando sua reflexão sobre assumir a relatoria.

Perguntada se foi procurada pelo ministro Geddel, a deputada afirmou que ligou para ele avisando de sua decisão, mas depois que ela conversou com Temer e com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).

? Liguei para o ministro Geddel no final. Disse da história de trocar a secretaria de Patrimônio pela da Pessoa Idosa. E disse a ele que tinha conversado com o presidente Temer e o Padilha. Acho que ele (Geddel) foi meio protocolar. E me disse: ‘ah, tá bom. Vou mandar não sei quem falar com você’. E não mandou ? disse Mara Gabrilli.