Cotidiano

Rebeldes incendeiam ônibus enviados para retirada de doentes e feridos de vilas xiitas na Síria

BEIRUTE ? Diversos ônibus enviados para retirar doentes e feridos das vilas de al-Foua e Kefraya, sitiadas pelos rebeldes sírios, foram atacados e incendiados pelos insurgentes, informaram o Observatório Sírio de Direitos Humanos e a TV estatal do país. Alguns dos ônibus, assim como veículos da organização humanitária Crescente Vermelho, no entanto, conseguiram chegar à entrada dos lugarejos. A evacuação das vilas é parte do acordo fechado neste sábado que permitiu a retomada do processo de retirada de milhares de civis e combatentes das últimas áreas no Leste da cidade síria de Aleppo dominadas pelos rebeldes, iniciado na última quinta-feira e interrompido já na sexta-feira.

Segundo a mídia estatal síria, ?terroristas armados?, termo que usa para se referir aos grupos rebeldes que lutam contra o governo do presidente Bashar Al Assad, atacaram e incendiaram cinco dos ônibus, destruindo os veículos. Já oficiais rebeldes disseram que uma multidão furiosa, possivelmente apoiada por forças pró-governamentais, são responsáveis pelo ataque.

Um morador da área, por sua vez, informou à agência de notícias Reuters que o ataque não foi feito pelo grupo anteriormente conhecido como Frente Nusra, que anteriormente havia afirmado não concordar com a evacuação das duas vilas, cujos habitantes são xiitas.

O ataque aos ônibus que seguiam para al-Foua e Kefraya coloca em risco o reinício da retirada dos moradores do Leste de Aleppo, último reduto rebelde na cidade síria onde vários ônibus começaram a entrar neste domingo para a evacuação.

– Os ônibus começaram a entrar nos bairros de Zabdiye, Salaheddin, Al Mashad e Al Ansari no Leste de Aleppo sob a supervisão do Crescente Vermelho e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para retirar os terroristas que restam e suas famílias – informou a agência oficial síria Sana.

Milhares de civis com fome e em meio ao frio aguardaram durante a noite por uma saída que havia sido adiada por novas divergências entre o regime sírio e os rebeldes. No último reduto insurgente, cercado pelo exército sírio, a espera era insuportável para dezenas de feridos que sobreviviam em condições extremamente precárias.

Em um hospital da região, o clima era de apreensão. Enfermos e feridos estavam encostados no chão, não havia água ou comida e o edifício contava com um aquecimento mínimo, apesar da temperatura de seis graus abaixo de zero durante a noite. O fisioterapeuta Mahmud Zaazaa disse que restavam apenas ?três médicos, um farmacêutico e três enfermeiros? na zona.

O principal obstáculo para a saída dos civis de Aleppo era uma divergência sobre o número exato de pessoas que deveriam deixar Fua e Kafraya, duas localidades xiitas controladas pelo regime e cercadas pelos rebeldes na província vizinha de Idlib, Noroeste da Síria. Segundo o acordo alcançado entre Turquia, que apoia os rebeldes, e Rússia e Irã, aliados do regime, esta retirada deveria coincidir com a de Aleppo. Mas os rebeldes aceitaram permitir a saída de 1.500 pessoas de Fua e Kafraya, enquanto Teerã reclama a saída de 4.000.

Enquanto isso, o Conselho de Segurança da ONU votará neste domingo a proposta francesa de enviar observadores a Aleppo para supervisionar a retirada de civis e informar sobre sua proteção. O Conselho se reunirá às 11h locais (14h de Brasília) para examinar o rascunho de resolução apresentado pela França, apesar da oposição da Rússia, aliada do governo sírio e que tem poder de veto no organismo.

O texto divulgado pela França afirma que o Conselho se declara ?alarmado? pela crise humanitária nesta cidade e pelo fato de que ?dezenas de milhares de habitantes sitiados em Aleppo? precisam de ajuda de emergência e ser retirados da localidade.

Neste domingo, o secretário-geral da Otan defendeu a decisão da organização de não intervir na guerra na Síria.

– Na Síria está acontecendo uma catástrofe humana horrível. Às vezes é oportuno um deslocamento militar, como no Afeganistão – disse Jens Stoltenberg ao jornal alemão ?Bild am Sonntag?. – Mas às vezes os custos de uma operação militar são maiores que os benefícios. No caso da Síria, os sócios da Otan chegaram à conclusão de que um deslocamento militar teria apenas agravado uma situação terrível, talvez estendendo o conflito a toda região – completou.