Cotidiano

Quatro indígenas feridos em ataque seguem internados no MS

indiosMS.jpg Indígenas SÃO PAULO. Quatro indígenas seguem internados em estado grave, entre eles uma criança de 12 anos, após ataque à comunidade tekohá Tey Jusu, no município de Caarapó, a 264 quilômetros de Campo Grande, na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul. O ataque, que ocorreu na manhã de terça-feira, depois que os indígenas aumentaram a área que ocupavam. O conflito terminou com a morte de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza Guarani-Kaiowá, de 26 anos, que era agente de saúde.

– Os indígenas estão entregues à própria sorte no Mato Grosso do Sul. Desde agosto do ano passado já ocorreram mais de 25 ataques à comunidades indígenas no estado – afirma Matias Benno Henpel, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), referindo-se ao mês em que ocorreu a morte do índio Simeão Vilhalva, no tekohá Nhenderú Marangatu, no município de Antonio João, na fronteira com o Paraguai, também na região de Dourados.

O Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do país. Segundo dados do IBGE, são 73.295 indígenas, atrás apenas do Amazonas, que tem 168.680. Na terça-feira, após o conflito, a Funai divulgou nota manifestando compromisso em mobilizar as autoridades do setor de segurança para apurar a responsabilidade pelo ataque e informou que estava dialogando com o Ministério da Justiça, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para uma intervenção imediata na região de conflito.

A informação é que mais de 100 caminhonetes teriam participado do ataque à ocupação indígena, que chegaram a fazer bloqueio nos acessos à comunidade. A Polícia Federal e a Polícia Militar (PM) retornaram nesta quarta-feira à área onde ocorreu o ataque.

Conflito acirrado após relatório da Funai

Em setembro de 2015, a Funai divulgou nota afirmando que reconhece a legitimidade da luta dos povos Guarani Nhandeva e Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, por suas terras tradicionais e que repudiava a violência e a criminalização dos indígenas no estado. Com o afastamento da presidente Dilma Roussef, o antropólogo Artur Nobre, funcionário de carreira e diretor do órgão, passou a responder pela presidência da Funai. João Pedro Gonçalves, que era presidente da Funai, foi exonerado do cargo no último dia 3 de junho.

O conflito na região é antigo, mas se acirrou depois que a Funai publicou, no dia 13 de maio, o relatório de identificação de uma área de 55,6 mil hectares (556 km²) para criação da Terra Indígena Dourados-Amaambaipeguá, destinada aos guaranis kaiowas. Pouco antes da votação do impeachment pelo Senado, a presidente Dilma Roussef determinou que fossem destravados processos de criação e homologação de terras indígenas em todo o país. Pelo menos nove terras indígenas foram homologadas. Ao assumir o governo, o presidente interino Michel Temer determinou à Casa Civil que iniciasse um “pente-fino” em todas as ações do governo da presidente afastada, a partir do dia 1° de abril

No caso de Caarapó, a publicação do relatório foi publicada no dia 13 de maio, um dia depois da posse de Temer. O documento é apenas o primeiro passo do processo de criação da terra indígena, iniciado há oito anos.

Entidades criam frente em defesa dos indígenas

Flávio Machado, coordenador do Cimi no Mato Grosso do Sul, afirmou que mais de uma dezena de entidades da sociedade civil se reuniram nesta quarta-feira em Campo Grande e decidiram criar a Frente Internacional de Defesa dos Povos Indigenas, destinada à promover uma campanha em defesa dos índios no Brasil denunciar os assassinatos de índios no país, principalmente no estado. Um ato público em protesto contra a morte do agente de saúde indígena será realizado em Campo Grande, para marcar o sétimo dia do assassinato. A ideia é fazer outros atos públicos em defesa dos povos indígenas em várias capitais, em datas a serem programadas.

– Os guaranis kaiowás sofrem com a violência, com a desnutrição de suas crianças e têm alto índice de suicídio. São mais de 40 processos de criação de terra indígena no estado, em locais de antigas aldeias, que não são concretizados. Mesmo os que estão em terras indígenas, vivem em confinamento, porque elas são pequenas demais para permitir que consigam plantar e sobreviver – afirma Machado.