Cotidiano

Premier e presidente da França são vaiados em homenagem a vítimas de atentado em Nice

NICE ? Na França, o primeiro-ministro Manuel Valls e o presidente François Hollande foram vaiados nesta segunda-feira durante uma cerimônia de homenagem às vítimas do atentado de Nice. O país vive em alta tensão após um terrorista tunisiano ter avançado com um caminhão sobre uma festa que celebrava o Dia da Bastilha na última quinta-feira. Nesta manhã, uma multidão se reuniu de novo no Passeio dos Ingleses para fazer um minuto de silêncio e relembrar a morte de 84 pessoas causada por Mohamed Lahouaiej Bouhlel.

Os líderes, que viajaram a Nice para acompanhar a homenagem, foram vaiados pela multidão antes e depois do minuto de silêncio, com direito a alguns pedidos de renúncia. O incidente é mais uma demonstração do clima de tensão que impera na França, alvo do terceiro ataque em grande escala em 18 meses.

O clima de unidade nacional que prevaleceu após os dois primeiros ataques não resistiu ao atentado cometido em Nice. A oposição acusa o governo do presidente francês, François Hollande, de não ter feito o necessário para evitar novos ataques.

? Tudo o que deveria ter sido feito em 18 meses não foi feito ? afirmou no domingo o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Uma pesquisa publicada pelo jornal francês ?Le Figaro? mostrou que apenas 33% dos entrevistados confiava nos atuais líderes da França para combater o terrorismo. O índice é uma baixa expressiva em comparação aos 50% registrados na sequência dos dois últimos atentados que atingiram o país no ano passado.

? O governo nos promete coisas mas nada dura ? disse Antony Fernandes, que é morador de Nice, à Reuters TV. ? O que eles fizeram até agora para nos fazer sentir seguros? E ainda o que eles esperam? A cada seis meses, nós vamos ter que chorar por mais mortos?

Em resposta, o presidente pediu o respeito à dignidade e verdade na palavra pública. Já o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, rejeitou as acusações de fragilidade do governo fraancês na luta antiterrorista. De acordo com as autoridades, 100 mil policiais, oficiais e militares estão mobilizados para garantir a segurança na França.

? Vamos seguir com a luta sem quartel contra o Daesh (acrônimo em árabe para o Estado Islâmico) dentro e fora do país ? reiterou o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, após uma reunião no Palácio do Eliseu.

A França, que integra a coalizão internacional de combate aos jihadistas, prosseguirá com os ataques aéreos no Iraque e na Síria, segundo o ministro. Valls e Cazeneuve afirmaram ainda, em comunicado conjunto, que a ação do governo dá resultados, indicando que 16 atentados foram evitados na França desde 2013.

Quatro dias após o massacre, autoridades ainda não confirmaram precismente os vínculos entre o tunisiano Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, autor do ataque em Nice, e o Estado Islâmico. O grupo extremista reivindicou o ataque no fim de semana, mas a polícia ainda investiga a declaração.

? Não podemos descartar que um indivíduo desequilibrado e muito violento ? duas características que, segundo testemunhas, definiam a personalidade do agressor ? tenha se visto imerso, após uma radicalização rápida, neste crime terrível ? afirmou Cazeneuve.

Seis pessoas permanecem detidas, incluindo um albanês de 38 anos suspeito de ter fornecido ao agressor a pistola com a qual ele atirou contra um policial antes de ser morto. Três pessoas interrogadas foram transferidas para unidades dos serviços de inteligência perto de Paris.

Ao menos uma das pessoas interrogadas citou à polícia uma guinada recente do tunisiano para o “islã radical”. Antes, o agressor demonstrava pouco interesse na religião. A polícia continua investigando a possibilidade de Lahouaiej-Bouhlel, que planejou de modo minucioso o ataque, ter cúmplices.

Pouco antes de avançar em alta velocidade contra os pedestres, o tunisiano enviou uma mensagem de texto a um amigo. Na mensagem, comemorava o fato de ter conseguido uma pistola de calibre 7,65 e pedia mais armas, segundo fontes próximas à investigação.

Mais de 200 pessoas estão trabalhando para identificar todos os destinatários das mensagens enviadas por Lahouaiej-Bouhlel. Também se sabe que o homem de 31 anos, que trabalhava como transportador, fez uma foto no caminhão com o qual cometeu o ataque e depois a enviou por mensagem de texto. Segundo uma fonte próxima ao caso, Lahouaiej-Bouhlel esteve no Passeio do Ingleses com o caminhão utilizado no ataque dois dias antes de executar o ataque.