Cotidiano

Polícia de SP trata caso de jovens desaparecidos como chacina

62569652_SvÉO PAULO SP 07112016 VIOLväNCIA-SP - Familiares chegam ao IML central para reconhecimento.jpgSÃO PAULO – A polícia de São Paulo mudou o rumo da investigação do sumiço de cinco jovens da zona Leste da capital em 21 de outubro: antes considerado caso de desaparecimento, agora trata-se de uma chacina. Três dos cinco corpos encontrados na zona rural de Mogi das Cruzes, Região Metropolitana, no domingo, foram identificados como sendo de integrantes desse grupo. São eles Caíque Henrique Machado Silva, de 18 anos, Cesar Augusto Gomes Silva, de 19, ambos identificados por impressão digital, na tarde desta segunda, e Robson Fernando Donato de Paula, de 16 anos, identificado na tarde desta terça pelo Núcleo de Antropologia do Instituto Médico Legal (IML).

A Delegacia de Homicídios já ouviu dois policiais, entre eles um que levantou dados das vítimas dias antes do desaparecimento delas. São várias as linhas de investigação como o envolvimento de agentes no crime, já que foram encontradas cápsulas de calibre 40 no local onde os corpos estavam. Elas são de uso exclusivo da polícia. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, já havia dito, nesta segunda-feira, que a hipótese não estava descartada.

O GLOBO confirmou que as cápsulas de calibre 40 pertencem a dois lotes comprados pelas polícias civil e militar. As encontradas nos corpos das vítimas já identificadas, porém, são diferentes, de calibre 38 e 12. A polícia tenta agora entender o que elas estavam fazendo ali.

César Augusto Gomes Silva, de 19 anos, Jonathan Moreira Ferreira e Caique Henrique Machado Silva, ambos de 18, Robson Fernando Donato de Paula, de 16, e Jones Ferreira Januário, de 30, seguiam de carro da região de Sapopemba, na zona Leste, rumo a uma festa em um sítio em Ribeirão Pires, no ABC Paulista. Eles teriam sido convidados por um grupo de mulheres nas redes sociais. O perfil delas, porém, foi apagado.

Na última mensagem enviada a uma amiga, pelo celular, Jonathan relatou uma abordagem da Polícia Militar. Depois, o grupo não fez mais contato.

?ABORDAGEM NORMAL?

Todos os projéteis encontrados já estão sob poder da polícia. Dois policiais também foram ouvidos, entre eles o que acessou os dados do grupo dias antes do desaparecimento dos jovens. O corregedor da PM, coronel Levi Anastácio Félix explicou ser normal abordar suspeitos e verificar se eles têm antecedentes criminais, e que isso não faz do agente um culpado. O coronel aponta, porém, que todos os policiais envolvidos, de alguma forma, no caso ?como o que protegeu a cena do crime?, foram convidados a prestar esclarecimentos.

? É natural o policial fazer consulta na abordagem, para saber se a pessoa é procurada ou não. É dessa forma que a PM prende mais de cem mil criminosos em flagrante por ano. Só isso não traz situação de suspeita ? justifica o coronel.

? E essas consultas foram feitas vários dias antes do desaparecimento. Leva a crer que é uma situação de abordagem, de rotina ? continuou.

Das cinco vítimas, somente Jones não tinha antecedentes criminais.

Em depoimento, o policial negou qualquer envolvimento nesse crime. Os investigadores pedirão para rastrear o GPS das viaturas que rondaram pela região de Sapopemba, na zona Leste, no dia em que o grupo foi visto pela última vez.

Além de envolvimento policial, os investigadores também consideram que o crime tenha sido praticado por bandidos, e que o convite para a festa, na verdade, era uma emboscada.

O caso segue em sigilo, decretado pelo Tribunal de Justiça Militar de São Paulo (TJM). Em nota, o órgão justificou que a ação visa ?resguardar a imagem dos policiais investigados?, já que ?existe a probabilidade de um eventual PM investigado hoje ser considerado inocente no futuro?.

MAIS LEGISTAS PARA AJUDAR NA IDENTIFICAÇÃO

O ouvidor das polícias, Julio Cesar Neves, informou que pediu à Secretaria de Segurança Pública (SSP) para disponibilizar mais médicos legistas no caso. O objetivo é acelerar a identificação dos corpos, em avançado estado de decomposição.

Segundo Neves, os profissionais que participaram da identificação das ossadas descobertas em uma vala clandestina do cemitério Dom Bosco, em Perus, em setembro de 1990, vão colaborar.