Cotidiano

Plebiscito britânico já mudou realidade da UE

Qualquer que seja o resultado do plebiscito sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia (UE) hoje, a Europa não será mais a mesma. O impacto de um Brexit (como a saída do país está sendo chamada em inglês) poderá produzir uma fragmentação do bloco, com efeitos colaterais globais no campo econômico e no âmbito geopolítico. Se o Brexit vencer, o Reino Unido será o primeiro país a deixar o bloco, elevando a instabilidade numa região confrontada por crises econômica, política e humanitária.

A própria realização do plebiscito coloca em dúvida a suposição de que o caminho natural para o bloco é marchar para uma integração federativa. Ao contrário, a realização de plebiscitos semelhantes vem sendo defendida em outros países por partidos ultranacionalistas, como a Frente Nacional, de Marine Le Pen, na França; e o holandês Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, que chegou a mencionar a explosão de uma ?primavera patriótica?.

Levantamento recente do Pew Research Center, citado pelo ?Wall Street Journal?, revelou que é grande o descontentamento dos países com a falta de flexibilidade de Bruxelas em lidar com questões cruciais, como a crise econômica do bloco e a política de acolhimento de refugiados. Este é o caso de Holanda (46%); Alemanha e Reino Unido (48%); Espanha (49%); e França (61%).

A ideia de uma comunidade econômica europeia foi lançada em 1958; ela se tornou União Europeia em 1993, e a moeda comum foi introduzida em 1999. As discussões fundamentais desse processo foram lideradas por Alemanha e França, o que poderia sugerir que, no evento de uma saída do Reino Unido, estes países acelerariam a integração continental. Mas, diante do nacionalismo enraizado e a relutância de Bruxelas em ceder poder para os países, há pouco espaço para isso, especialmente com eleições em Alemanha e França marcadas para o próximo ano.

Algumas alternativas estão sendo sugeridas, como a proposta do ex-presidente francês Nicolás Sarkozy, de simplificar as coisas, restringindo a zona monetária comum aos principais países, com um ministro de Finanças e um Fundo Monetário Europeu. Ao mesmo tempo, seria mantido um bloco europeu com as 28 nações, para questões como segurança, energia, pesquisa e agricultura.

De qualquer modo, o ideal de uma integração ainda é defendido por boa parte dos europeus. Pesquisa específica sobre o Brexit mostrou, por exemplo, que os jovens britânicos, socializados num mundo globalizado, são mais favoráveis à permanência do país no bloco, enquanto os cidadãos mais velhos, saudosos de um Reino Unido glorioso, preferem a saída.

A questão, portanto, é estabelecer o tipo de integração, econômica, política e social, do bloco, considerando-se uma realidade complexa, o que exigirá, independentemente do resultado do plebiscito britânico, uma postura mais flexível de Bruxelas.